Pelo menos dois grupos de moradores da zona Sul, estão mobilizados e tem se reunido frequentemente para realizar ações de reflorestamento em duas áreas atingidas por incêndios na zona Sul de Ribeirão Preto. Além do plantio de mudas, eles levaram, nos dias subsequentes à queimada, alimentos para os animais que acabaram sendo atingidos pelos estragos do fogo.
De acordo com Rodrigo Sampaio, morador de um dos condomínios próximos a área incendiada e membro do grupo ‘Amigos da Fauna RP’, os moradores se reuniram e combateram os danos causados pelo incêndio, imediatamente.
“Logo no dia seguinte [do incêndio], duas associadas do condomínio onde moro criaram um grupo no WhatsApp que foi compartilhado para outras pessoas aqui da região Sul, que também moravam em condomínios afetados”, comentou.
O Grupo, segundo ele, pode ser acompanhado por meio das redes sociais e está aceitando contato de empresas que queiram patrocinar as ações de reflorestamento. O grupo possui uma página no Instagram que pode ser acessada por @AmigosDaFaunaRP.
Diante dessa iniciativa, desde então têm sido realizadas ações como arrecadação de alimentos para os animais e incursões na área para a limpeza do local e o reflorestamento.
Sampaio ressalta, ainda, que “na semana posterior às queimadas, muitos animais da região foram encontrados em condições ruins e levados, pela população e pelo Corpo de Bombeiros, até o bosque Fábio Barreto”.
No domingo, 8 de novembro, esses moradores plantaram cerca de 70 mudas nativas.
Desde os dias seguintes à queimada, a Secretaria do Meio Ambiente tem realizado reuniões com representantes de condomínios adjacentes à região afetada pelo incêndio para recuperação da área.
A prefeitura informou que foi realizado um seminário online com participação de membros do Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema), Fundação Florestal, CONSEG Bonfim Paulista, representantes dos bairros afetados pela queimada e técnicos convidados, onde foram apresentadas as ações de cada um dos itens que seriam assumidos.
Entre eles estão: suporte nas ações de limpeza na região; orientações à população quanto à conduta com animais vitimados e plantios; mapeamento completo da região afetada; esclarecimentos sobre o fornecimento de mudas pelo Horto Municipal; formas de se conseguir subsídios para a recuperação das áreas públicas; identificação de possíveis compensações ambientais a serem aplicadas na área queimada; indicação à Cetesb sobre a necessidade de brigadas e equipamentos de combate a incêndios nas propriedades privadas.
No entanto, além das ações para o reparo do dano causado, o trabalho de prevenção das queimadas também se torna muito importante.
Segundo a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA) também estão sendo treinados os funcionários, visando ações de prevenção e combate a incêndios, além de palestras de Educação Ambiental sobre a importância das áreas verdes, sob o ponto de vista da flora e da fauna.
“Temos planos de manejo nas áreas como a do Bosque Municipal Fábio Barreto e está sendo atualizado o do Parque Ângelo Rinaldi – Horto Municipal. O monitoramento é feito com auxílio da Guarda Civil Municipal e contamos com a população, que auxilia nas denúncias e informações para que sejam adotadas as medidas necessárias. Também temos parcerias com o Corpo de Bombeiros e com o Instituto Florestal, além de parceiros particulares que auxiliam em emergências. Como participamos do Programa Município Verde e Azul (do Governo Estadual), temos várias ações de preservação ambiental que fazem parte do escopo do programa”, comunicou a SMMA, em nota.
No Nova Aliança, outra ação de moradores
Além do grupo Amigos da Fauna RP, moradores do Residencial Nova Aliança também se reuniram em prol dessa causa. Segundo Mariana de Moraes Olívio, coordenadora desse grupo, os moradores do residencial até contrataram uma engenheira ambiental para definir um plano profissional de manejo na área.
“Como essa é uma área de preservação que está em nome da Prefeitura, achamos melhor contratar uma pessoa com conhecimento para primeiramente termos um projeto; uma pessoa que saiba colocar exatamente o tipo de planta que é preciso e que saiba corrigir o solo da maneira certa”, disse Mariana Olívio ao Tribuna.
No entanto, o plantio ainda não pôde ser feito, pois os moradores estão aguardando que a Prefeitura encaminha um equipe para realizar a roçada do terreno. Os moradores temem, inclusive, que novos incêndios prejudiquem ainda mais a área já bastante degradada.
Eles protocolaram um pedido na Secretaria do Meio Ambiente, mas o prazo se extinguiu e ninguém da SMMA apareceu para a roçada da área. O Tribuna questionou a Prefeitura que, por meio de nota respondeu: “”A Secretaria do Meio Ambiente informa que o local compreende uma área verde pública e uma área institucional, e que a roçada só poderá ser realizada após análise dos parâmetros institucionais e legais pertinentes à destinação das áreas. Sendo assim, informa ainda que a pasta está trabalhando na avaliação técnica da proposta de projeto de plantio recebida na última sexta-feira, 13 de novembro, e aguarda parecer técnico da Secretaria de Planejamento quanto à previsão (ou não) de implantação de instalações públicas no local (área institucional).”
Para arcar com os custos do projeto, com as mudas, com a contratação de profissionais e outros insumos, Mariana ressalta que os moradores estão solicitando doações aos próprios moradores do residencial e dos prédio residenciais e comerciais no entorno da área. Um material gráfico foi impresso, reforçando a ação e divulgando uma conta bancária para as doações.
Além disso, para quem também se interessar, os membros possuem um grupo no WhatsApp – que pode ser acessado pelo link, – onde são prestadas as contas de todos os gastos do projeto, ao final de cada mês.
O pior incêndio
No dia 18 de setembro, um incêndio atingiu uma área equivalente a 460 campos de futebol, composta por cana-de-açúcar, APP e vegetação nativa, localizada próxima à Rodovia Prefeito Antônio Duarte Nogueira, o Anel Viário Sul, em Ribeirão Preto.
De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, na oportunidade, foram encaminhadas ao menos seis equipes para o combate das chamas. O clima seco e a alta temperatura podem ter auxiliado para que o fogo se espalhasse.
Diante da magnitude do incêndio, as chamas se aproximaram de condomínios como Ipês Roxo e Ipê Rosa, Terras de Siena, Terras de Florença, Buona Vita Ribeirão, Quintas dos Ventos, Alphaville I, II e III, Terras de San Gabriel, Vivendas do Sul, Recantos do Sul e Praças do Sul, causando pânico nos moradores.
Por conta da gravidade e de haver indícios de que o incêndio teria sido criminoso, o Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema), do Ministério Público Estadual, em Ribeirão Preto, solicitou a abertura de um inquérito policial para investigar a autoria do início das chamas.