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Medicina: uma grande aventura humana

Quando assistimos hoje os grandes avanços tecnológicos que permitem operar órgãos internos sem que as mãos do cirurgião os toquem não podemos deixar de sentir a presença de Deus. Mais impressionados ficamos ainda quando sabemos que um cirurgião pode estar operando um paciente que está a centenas de quilômetros. A tele-cirurgia é um milagre, como também são milagres os transplantes de órgãos vitais, que dão ao transplantado uma nova vida, uma nova oportunidade.

Aqui chegamos passo a passo, com muitos tropeços e muitos sucessos.

Hipócrates, a partir da ilha de Cós, introduziu e defendeu a Medicina separada da religião e da magia, estudou a origem natural das doenças, definiu conceitos de Ética Médica e, com seus discípulos e seguidores, catalogou essa nova visão e esses novos conhecimentos em um conjunto de 60 livros que consti­tuíram o “Corpus hipocraticum”.

Quando, na Idade Média, o obscurantismo destruiu quase tudo que o conhecimento médico havia construído até en­tão, um grupo religioso migrou para a Pérsia, onde traduziu os conhecimentos coletados e ampliados por Galeno e abriu campo para que médicos do califado Oriental, como Avicena e Rhazis, e do califado Ocidental, como Maimônides, exercessem a Medicina galênica, ampliada pelos conhecimentos obtidos nessa medicina arabesca.

Quando Harun Al Rashid construiu o grande Hospital de Bagdad possibilitou um novo conceito de cuidados médicos e previdenciários, com tratamentos gratuitos. Mesmo nas tre­vas da Europa decadente uma luz brilhava em Salerno, onde era garantida Medicina e Ensino de alto padrão para a época. Aqui, pela primeira vez, foi utilizado do ensino supervisiona­do por médicos experientes, modelo para as atuais Residên­cias Médicas.

Ao longo dos séculos muitos médicos e pesquisadores garantiram a evolução. Formalmente a chamada “Medicina científica” começa em 1626 quando William Harvey descreveu a circulação sanguínea. Na verdade, essa descoberta tem um precursor: no século XII Ibn-Al-Nefas já havia descrito a circu­lação. Malpighi (Histologia), Claude Bernard (Fisiologia), Lou­is Pasteur (Microbiologia) e Morgagni (Patologia) foram alguns dos gênios que garantiram o avanço nos conhecimentos.

As faculdades e instituições universitárias, que até então se resumiam à Escola de Salerno, passaram a ser criadas no mun­do ocidental. A primeira delas em Bolonha (1088), seguida de Oxford (1096), Paris (1170), Cambridge (1209) e Salamanca (1218). A tendência à especialização começa no século XVIII. O século seguinte, conhecido como “O século dos cirurgiões” marcou grandes conquistas na ciência e na arte de operar, sen­do fundamental a evolução da anestesia e da assepsia.

O século XX se caracterizou pelos grandes avanços tecnoló­gicos que abriram espaço para conquistas valiosas como a Ima­ginologia, a Endoscopia, a Medicina Nuclear e tantas outras. Desses avanços nos conhecimentos e nos equipamentos de alta tecnologia vieram grandes conquistas científicas como os transplantes de órgãos, os “bebês de proveta”, os conhecimen­tos e aplicações com células-tronco e clonagem, a engenharia genética. A cirurgia laparoscópica, que permitiu agir cirurgica­mente sem tocar as mãos no órgão operado abriu campo para a possibilidade de se operar por meio de robôs. Daí a operar com comando à distância, na tele-cirurgia, foi um passo.

Um passo que demorou milhares de anos, muita aventura e muito sacrifício.

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