O caso Legião Urbana tem munição para render mais do que um episódio policial. Desde a manhã de terça-feira, 27 de outubro, quando policiais da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra Propriedade Imaterial (DRCPIM) foram à casa do produtor Marcelo Fróes com um mandato de busca e apreensão para recolher seu celular e seu computador, a história cresce.
Os agentes policiais, um deles sem máscara, estavam ali para descobrir possíveis “músicas inéditas de Renato Russo” que Fróes guardaria à revelia do detentor dos direitos autorais do cantor morto em 1996, seu filho, Giuliano Manfredini. Os fonogramas de Renato pertencem não a Giuliano, mas à gravadora EMI. E, mesmo que eles existam, não seria crime tê-los uma vez que não estão sendo comercializados.
Mas a história segue. Marcelo diz que prepara um volumoso depoimento à polícia para esta quinta-feira (29). Ele contou que vai apresentar dois contratos, um assinado com a gravadora EMI e outro com a família de Renato Russo, quando os direitos do cantor eram tratados ainda com o pai de Renato, seu Manfredini. Giuliano, à época, ainda não era maior de 18 anos para assumir os negócios.
Marcelo conta que foi contratado tanto pela gravadora quanto pela família para fazer um levantamento das gravações espalhadas de Renato Russo pelos estúdios em que ele gravou. Ele entregou o trabalho em um relatório com o nome das músicas em 2003.
Depois disso, como produtor, lançou legalmente três álbuns póstumos de Renato: “Renato Russo Presente” (2003), “O Trovador Solitário” (2008) e “Duetos” (2010), além de dois DVDs (“Uma Celebração”, de 2005, e “Entrevista MTV”, de 2006). Em 2010, conta, Giuliano tomou as rédeas dos negócios e se afastou da família e dos músicos do Legião.
Um esclarecimento importante, que talvez seja o capítulo que mais interesse aos fãs: segundo Marcelo Fróes e o produtor musical do Legião, Carlos Trilha, também citado na operação que a polícia batizou de “Será”, não há músicas inéditas de Renato. O que existe são letras e gravações de músicas conhecidas em outros takes.
E fala mais: “As tais ‘versões inéditas’ de músicas que já existem é quase certo que sejam apenas remixagens utilizando-se as vozes guia das faixas que possuíam este registro (Renato odiaria isso).” Fróes, enquanto isso, se diz prejudicado. “Sem celular e sem computador, estou impedido de trabalhar. E não há prazo para que eu possa reaver meus equipamentos.”
Renato Russo morreu em outubro de 1996, aos 36 anos, em complicações decorrentes da aids. Ele deixou algumas músicas gravadas, que foram aproveitadas pela gravadora para lançar o álbum póstumo, “O Último Solo”, em 1997. Em 2000, foi lançada uma coletânea com sua obra solo e mais duas músicas inéditas: as regravações de “A Carta”, de Erasmo Carlos, e “A Cruz e a Espada”, de Paulo Ricardo.