Nicola Tornatore
Há exatos 140 anos, em 14 de outubro de 1877, ocorria um episódio pouco lembrado nos livros sobre os primórdios de Ribeirão Preto, mas que para muitos historiadores foi fundamental e decisivo para que aquela pequena vila encravada no ”sertão” se tornasse, em poucos anos, o maior centro produtor de café do mundo.
Na edição de 14 de outubro de 1877, o jornal ”A Província de São Paulo” (hoje ”O Estado de S. Paulo”) publicou artigo do fazendeiro Martinho Prado enaltecendo o pequeno arraial que ele havia conhecido meses antes. No texto, Martinho, apelidado Martinico, escreveu:
”A Vila de Ribeirão Preto está situada num lugar alegre e com proporções a vir a ser uma linda povoação”. Semanas depois, seu amigo Luiz Pereira Barreto, que participara com os irmãos, no ano anterior, 1876, da mítica ”caravana Pereira Barreto”, trazendo para a região mudas de uma nova variedade de café (Bourbon), cultivadas na fazenda da família em Resende (RJ), iniciou a publicação no mesmo jornal de uma série de artigos sustentando que Ribeirão Preto era a saída para a crise que ameaçava de morte a cafeicultura brasileira – concentrada no Vale do Paraíba fluminense.
Reproduzidos em pequenos jornais por todo o Vale do Paraíba, os artigos de Martinho Prado e de Luiz Pereira Barreto deram início a um dos maiores fluxos migratórios da história do Brasil – entre 1897 e 1890, milhares de moradores de cidades como Resende (RJ), Barra Mansa (RJ), Barra do Piraí (RJ), Queluz (SP) e Bananal (SP) transferiram-se para o pequeno arraial que viria a ser chamado, na virada do século, de ”Eldorado paulista”.
Primeiro, vieram os cafeicultores, que há anos enfrentavam uma abrupta queda na produção de café, por causa do esgotamento das terras do Vale do Paraíba. Depois, profissionais liberais (advogados, médicos etc) e trabalhadores comuns (carpinteiros, ferreiros, marceneiros etc). E duas décadas depois dos primeiros artigos publicados pela dupla Martinho Prado e Luiz Pereira Barreto, Ribeirão Preto viveu seu apogeu, sendo considerado o maior centro produtor de café do mundo.
Martinho da Silva Prado Júnior (São Paulo, 17 de novembro de 1843 – São Paulo, 24 de maio de 1906), mais conhecido como Martinico Prado, foi dono na região de duas fazendas que se tornaram cidades. A fazenda Guatapará ele próprio formou, enquanto a fazenda El Dorado ele adquiriu do amigo Rodrigo Pereira Barreto (irmão de Luiz Pereira Barreto) e a rebatizou de São Martinho. Da primeira, surgiu a cidade de Guatapará. Da segunda, Pradópolis. Com estas duas fazendas, Martinico e seu irmão Antônio da Silva Prado, foram, por algum tempo, os maiores produtores de café do mundo.