Por João Paulo Carvalho
Marcelo D2 chega à pré-estreia de seu novo longa, Amar É Para Os Fortes, bastante ofegante. Com muita desenvoltura, ele convida a reportagem para um bate-papo rápido nas poltronas do cinema antes do início da primeira sessão do filme em um aconchegante espaço na zona oeste de São Paulo. Até o fim daquela abafada noite, seriam, ao todo, quatro exibições. Todas lotadas. Ícone dos anos 1990 à frente do Planet Hemp, o músico faz sua estreia nas telonas como diretor. Amar É Para os Fortes foi escrito, dirigido e roteirizado pelo próprio D2. “Eu fiquei um bom tempo estudando cinema. Aprendi como escrever um roteiro. Estudei muito por conta própria para que este projeto saísse. Não foi fácil”, lembra D2, com um orgulho estampado no rosto.
Não é para menos. Quem conhece minimamente a história de D2 sabe que as coisas nunca foram fáceis para o jovem morador do Catete, bairro periférico na zona sul do Rio de Janeiro. Ao lado do parceiro Skunk, fundou o Planet Hemp, uma das bandas nacionais mais bem-sucedidas da história recente da música brasileira. “Tenho uma larga experiência com videoclipes. Foram mais de 30 em 25 anos de carreira. Claro que ajudou, mas fazer um filme é algo que vai muito além disso”, complementa ele.
Antes mesmo de terminar sua linha de raciocínio, D2 é interrompido pelo filho, Stephan Peixoto, que entra na sala. Com uma cerveja nas mãos, o jovem de 26 anos senta-se na poltrona ao lado do pai. Eterno astro mirim da música Loadeando, gravada com D2 em 2002, quando Stephan tinha apenas 11 anos, o jovem vive no longa o personagem Sinistro, protagonista ao lado de Beatriz Alves (Chloe) e Lorran Saga (Mayor). “Tem muito da minha vida ali. Não precisei me esforçar para interpretar o Sinistro”, conta Stephan.
Quase autobiográfico, o filme é uma crônica sonora da realidade carioca. Violência, drogas, amigos, inimigos, família, arte, esperança e amor são as palavras que melhor resumem a produção. Praticamente sem nenhum diálogo, o segredo do filme está justamente nessa narrativa original. Em Amar É Para os Fortes, a história segue o ritmo de 8 das 10 faixas do álbum homônimo, que, assim como o filme, também será lançado nesta sexta-feira, 31, em todas as plataformas digitais.
Com produção de Mario Caldato Jr. e participação de Alice Caymmi, Ana Majison, Danilo Caymmi, Gilberto Gil, Rincón Sapiência, Seu Jorge e Wilson das Neves, Amar É Para os Fortes é o 10º disco da carreira de Marcelo D2. “No meu último álbum (Nada Pode Me Parar, de 2013), eu tinha feito 16 clipes. Depois, me bateu o estalo: por que não fiz uma coisa só? Uma espécie de audiodisco. Foi um processo criativo longo. É a história de um cara que nasce numa favela, num lugar superviolento, e acha que pode mudar o mundo por intermédio da arte e da cultura. Só que aquele ambiente atrapalha seus planos. Primeiro, eu escrevi o roteiro e só depois pensei nas músicas que iam narrar a história do Sinistro. Sintetizei tudo e passei a compor de uma forma que fizesse sentido dentro do contexto do longa”, conta D2.
D2 também lembra que Stephan não foi a primeira opção para interpretar Sinistro. Segundo ele, isso começou a mudar quando passou a ver as semelhanças entre o personagem e o próprio filho “No início, eu não pensei no Stephan, não. Depois, por se tratar de uma história quase que biográfica, lembrei que ele tinha características muito próximas do personagem principal do Amar É Para os Fortes. Ele matou a pau”, diz D2. “Desde pequeno, eu já estava acostumado com as câmeras. O Loadeando me ajudou muito, porque foi a partir daí que tive a experiência de um set e tudo mais”, lembra o jovem, que, à frente do grupo Start, já lançou inclusive um disco de estúdio.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.