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Marcelão Tonelada e o namorado punk da filha

Essa epidemia me priva de dar meu rolê habitual pelo nosso calçadão, de onde, muitas vezes, surgem motivos para minhas crônicas semanais. Recorri, então, a velhas lembranças e lembrei de um recado do querido amigo Marce­lão Tonelada, lutador de jiu-jitsu. Ele pediu que quando fôssemos nos reunir pra uma roda de samba, pra não nos esquecer de convidá-lo. Disse até que manjava de alguns instrumentos de percussão.

Matutei um bocado pra lembrar como conheci Marcelão Tonelada e a cena pintou no palco da minha memória. Nela, me vi sentado com Sócrates naquela mesa do Empório Brasília quando Marcelão ia passando, sem querer esbarrou na nossa mesa derrubando nossa cerveja. Daí foi um pampeiro danado pra salvar aquele líquido precioso. Ele, envergonhado, se derreteu em pedidos de desculpas.

Sócrates tirou de calcanhar, “sua especialidade”, e brincou: “Só te descul­po se você sentar com a gente e tomar uma gelada, até porque você parece um guarda-roupa com portas abertas (hehehe), puro músculo e no braço te encarar seria parada dura”. Rimos muito.

Marcelão, surpreso pela acolhida, disse que era professor de jiu-jitsu e mais conhecido como Marcelo Tonelada, isso pela aparência e sua pegada forte. Participava de competições mundo afora, era casado e tinha uma filha linda e coisa e tal. Apesar de toda a fortaleza, Marcelão se mostrava um doce de pessoa. Depois dessa nos encontramos muitas vezes e ele sempre derra­mando amor pela família.

Lembrei de uma vez que caminhava pelo calçadão e o encontrei, ali per­tinho da Cafeteria Única, quando, no sentido Pinguim, entrou uma jovem de uns 20 anos que parecia estar desfilando em uma passarela. A moça provocou o maior alvoroço naqueles senhores de cabelos brancos que marcam ponto por ali. Também, não era pra menos: era dona de um charme de tirar o folego, uma comissão de frente de abrir desfile na Sapucaí, além de um corpo fenomenal tipo violão, coberto com aquele provocante modelo de vestidinho justinho.

A cada passo que ela dava, o vestido subia um pouquinho, daí ela parava e o puxava pra baixo. E assim foi por várias vezes, os grisalhos só de butuca, loucos para ver um pouquinho mais e ela, dona de olhares maliciosos, caprichava mais e mais no seu inocente caminhar. Ao passar por nós, ouvi do Marcelão Tonelada: “Buenão, sabe quando vou deixar minha filha usar um vestidinho desses? Nunca… Nem a pau, Juvenal”.

Passou o tempo e decidimos fazer uma roda de samba, peguei meu cavaquinho, me juntei com Tião do Violão, Bacon do Surdo, Berimbau no tamborim e Luizinho Peruca no pandeiro. Convidei Marcelo Tonelada que levou vários instrumentos.

Apresentei o novo parceiro pros sambistas notando que ele estava meio jururu. Cantamos Paulinho da Viola, Benito Di Paula, João Nogueira e por ai vai. Durante um intervalo, enquadrei Marcelão, que não parecia anima­do. E ele falou: “Olha, turma, vocês são pais e avós, por isso vou me abrir. Tenho uma filha de 16 anos, é minha princesinha, agora está naquela fase de namoradinho e dia desses ela chegou pra mim e minha esposa e disse: ‘Estou namorando e ele quer conhecer vocês’.”

E prosseguiu: “Levei um tranco, amigos, mas respondi… Traga ele aqui… Ela já foi avisando: ‘Pai, ele é diferente, se prepare’. Fiquei pensando nesse dife­rente… E no dia seguinte o mal acabado chegou e foi falando: ‘Tudo em cima, mano?’ Meu Deus!!! Não acredito que seja verdade. O tranqueira é cheio de tatuagens horríveis, orelha alargada com argola, pierce em tudo que é lugar, só sei que apaguei no sofá, quando acordei o mano tinha ido embora. Minha filha continua encantada com a figura, eu tô no Dr. Said, cardiologista”

Tião do Violão disse: “Marcelão vamos marcar uma roda de samba na sua casa, convide esse mal acabado, vou batizá-lo no samba com manjeri­cão e esse punk vai sumir do pedaço, você vai ver”. “Fechado, Tião”, disse o lutador. Não deu outra. Dias depois do samba, Marcelão me ligou e disse que o sujeito não apareceu mais. “Buenão, o poder do samba com manjericão funcionou, mano…”

Sexta conto mais…

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