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“Máquina de fazer doidos”

Era assim que o saudoso Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto) apelidava a televisão. O Sérgio se foi, a televisão ficou… e está cada vez pior. Vale tudo em troca de um ponto de audiência. E tome bacanais organizados em nível nacional, como o BBB, onde se discute se uma relação sexual, apresentada para todo o País (e como dizem, orgulhosamente, para outros países do mundo), foi consentida ou não. E tome programa com mani­festações de violência que querem nos impingir como “espor­te”, com lutas do antigo “vale tudo”, que agora recebem nomes sofisticados, sempre vindos dos nossos exemplares e pacíficos irmãos do hemisfério norte.

Na entrevista de um dos lutadores (que famoso comentarista de uma das emissoras chama de ‘gladiadores modernos’) perguntaram se ele sentia prazer em “bater na cara” do adversário. Resposta: “É meu trabalho. Ou eu bato ou ele me bate”. É esse o recado mandado para toda a grande colcha de retalhos que é o Brasil.

O que se esperaria é que, contrapondo essa agressão televisiva de moral e ética no mínimo discutível, os segmentos culturalmente mais avançados, que pelo menos devem saber, ler, escrever e analisar valores, procurassem dar exemplos. Infelizmente não é isso o que vemos. Vejamos o que acontece quando milhares de jovens chegam à Universidade. É um espetáculo deprimente que se repete a cada vez que são divulgados os resultados dos vestibulares.

Futuros profissionais de nível universitário assumem papéis lamentáveis e recebem seus novos colegas com calorosas manifes­tações… de selvageria. O que devia ser momento de alegria pela recepção dos novos colegas se transforma em manifestação bestial de desamor ao próximo. As notícias resultantes dessa “recepção” frequentemente são trágicas: é o calouro que morreu afogado, é o outro que ficou cego, é o que sofreu trauma craniano, é o que teve queimaduras pelo corpo… é um circo de horrores perpetrados pelos que deviam ser a elite cultural do país.

E estamos falando de jovens que tiveram o privilégio de serem universitários em meio a analfabetos e semi-alfabetizados. Que fazem parte daqueles que receberam mais, em um país onde a regra é receber menos. Futuros médicos, agora ainda calouros, tomam goles e goles de bebidas alcoólicas enquanto ocupam os pontos onde mendigos pedem moedas, nos cruzamentos das ruas.

Chama atenção o número de representantes do sexo feminino tomando vodca, que é a bebida destilada preferida por elas “porque não deixa cheiro e não dá celulite” (???). Leio na mídia local e na­cional que calouros de uma Faculdade de Direito de Ribeirão Preto divulgaram nota de repúdio aos trotes que veteranos lhes aplicam e que incluiriam o total absurdo de que as calouras seriam obrigadas a exibir-se nuas e prometer sexo aos veteranos. Vejam que estamos falando de futuros advogados de uma das mais importante Universi­dade do País. Esta é a elite.

O que se pode esperar de outros, que só tem como orientado­res programas televisivos de demonstrações de sexo e violência? Ou será que são esses mesmos telespectadores que chegaram à Universidade e estão levando para ela o brilhante aprendizado de anos diante dos “professores” que dão aulas e exemplos na “máquina de fazer doido”. Afinal, as novelas estão aí, com claros modelos do que consideram “valores” modernos: corrupção, infidelidade, violência e tantos outros.

É coisa séria para nossa Universidade pensar. Será que a atual maneira de selecionar universitários, especialmente aqueles pagos com dinheiro público, está correta?
Se estiver, será mais coerente que a escolha se faça em programas de auditório.

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