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Mãos à obra

Diante de situações inusitadas, surpreendentes ou de alguma complexidade, é comum as pessoas dizerem: “alguém precisa fa­zer alguma coisa”, como forma de indicar que este alguém é qual­quer pessoa, menos a que está se expressando em tom de cobran­ça. Em outra frase, também de uso regular e – às vezes – contínuo – a cobrança ganha também o tom de indignação: “ninguém faz nada”. Neste caso, como no anterior, o autor da frase se exime de qualquer responsabilidade de fazer, imaginando ser sempre do outro, ou outros, o poder da iniciativa.

Trata-se de um comportamento cultural que deve e precisa ser modificado, mesmo que paulatinamente. Porque todos nós temos responsabilidade com o meio em que vivemos. O poder público, claro, tem mais responsabilidades. Entretanto há grandes exemplos de pessoas que começaram por limpar o seu quintal, o seu quarteirão e contagiaram pessoas que não fariam a mesma coisa espontaneamente, mas que fizeram após o estímulo. Ao ver alguém fazer, outros podem tomar a mesma atitude, o que pode beneficiar toda a sociedade e melhorar a qualidade de vida.

Nas comunidades, principalmente urbanas, essa colabo­ração é fundamental para um grande número de benefícios. Um exemplo claro é acabar com o descarte irregular de mate­riais utilizados para os mais variados fins. Cobra-se do poder público que limpe, que conserve, que mantenha. E o poder público tem, sim, obrigação de limpar. Mas em muitos casos é impossível manter um local em ordem se há sempre alguém disposto a colocá-lo em desordem. Não é sugerir aqui que as pessoas limpem locais sujos por terceiros. É pedir apenas que os descartes sejam feitos em locais corretos, de forma a se evitar o desperdício contínuo de trabalho.

Ao colaborar com a limpeza, a manutenção da ordem, a pessoa não está colaborando apenas com o poder público ou com quem o representa. Está agindo em favor da sua comuni­dade, do seu bairro, da sua cidade. Locais limpos promovem a saúde, o conforto, a boa convivência. E, ao evitar a exigên­cia repetitiva de limpeza, o cidadão colabora para que mais recursos sejam aplicados em obras e equipamentos que levem ao melhor atendimento público e maior aproveitamento dos recursos em favor de toda a sociedade.

Em períodos de casos crescentes de doenças transmitidas por vetores como o Aedes aegypti, a colaboração se faz ainda mais necessária. Não é possível sempre deixar para alguém “fazer alguma coisa”, porque o combate depende muito mais de ações da sociedade civil do que dos poderes constituídos, uma vez que a maioria dos criadouros está nos imóveis. A participação, no entanto, vale também para outras ações, como o descarte correto de resíduos. A coleta de lixo é regu­lar em toda a cidade. Nada mais simples que utilizá-la para que a destinação seja feita corretamente.

Com a população assim agindo será possível reduzir a repetição de outra frase: “isso é falta fiscalização”. Sem a participação coletiva não haverá número suficiente de fiscais para chamar a atenção de quem pensa apenas nos deveres dos outros, ou autuar quem ultrapassa os limites permitidos e infringe leis em vigor. É possível fazer junto e, assim, fazer melhor. Ao contrário de procurar sempre um responsável ou um culpado que deixou de cumprir alguma tarefa.
Com essa mudança no modo de agir podemos levar para o plural a primeira frase.
“Precisamos fazer alguma coisa”. E em muito pouco tempo esquecer as outras duas frases, de cobrança a terceiros e a do pedido constante de fiscalização. Até porque quem muda hábitos e atitudes, neste sentido, não terá mais neces­sidade de fiscalização punitiva, apenas ações orientativas.

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