O último sábado foi o “sábado da aleluia”. Mais uma vez pudemos assistir, pela televisão, cenas da chamada e tradicional “malhação do Judas” em que um boneco é agredido a pauladas até ser despedaçado. Quem vê o “espetáculo”, e não conhece seus antecedentes, fica horrorizado com a violência exercida, principalmente, por crianças. Uma emissora de TV entrevistou as pessoas que destruíam o boneco: nenhuma delas sabia exatamente o significado daquilo que estavam fazendo.
São coisas desse tipo, aparentemente inocentes, que concorrem para a crescente banalização da violência. Neste caso agravada por um pano de fundo que alguns entendem como religioso (mas que, na verdade, não tem nada de religioso).
Alguém vai dizer que é tradição. É o mesmo que dizem da agressão covarde que praticam contra animais, em Santa Catarina, na chamada “farra do boi”. Se é tradição, vamos acabar com ela. Já passou da hora. Muitas outras “tradições” anacrônicas já desapareceram. Que esta seja mais uma. A violência não deve e não pode ser uma tradição.
O todo, se faz de pequenas coisas; as ações, de pequenos gestos; e a sensibilidade eleva seu limiar e se torna menor se formos aceitando e tolerando pequenas agressões às pessoas, aos animais e ao ambiente. A música que fala, estupidamente, que “um tapinha não dói” é bem um exemplo do que estou falando.
Tenho esperanças de que o ser humano não perca sua sensibilidade e capacidade de indignação contra a violência e a injustiça. Tenho esperanças de que muitas outras pessoas não aceitem passivamente o culto à violência, venha em que forma vier. É importante que declarem isso publicamente, como faço agora, e trabalhem para que mais e mais pessoas mostrem sua indignação contra a crescente onda de violência e desrespeito à vida.