Por Ludimila Honorato
A versão em áudio do livro Minha História, de Michelle Obama, ganhou a voz de Maju Coutinho no Brasil. O audiolivro foi lançado pelo Google Play Livros e Companhia das Letras durante evento em São Paulo que contou com a presença da jornalista. Além de falar sobre o processo de produção da obra, ela disse que se emocionou e se identificou com a história da ex-primeira-dama dos Estados Unidos.
“Foi arrebatador, incrível e emocionante, uma experiência de transformação, de muita identificação da história dela com a minha”, disse a jornalista.
Maju contou ao E+ que na época em que recebeu o convite para ser a voz de Michelle, estava lendo a biografia. “Fiz um post e coloquei na minha rede social. Depois, fiquei sabendo que quando eles pensaram em alguém, lembraram do post que viram. Foi meio destino, agora só falta conhecer a Michelle”, disse entre risos.
O livro tem duração de 20 horas, mas para Maju gravar todos os capítulos foi quase o dobro do tempo dentro do estúdio, sendo que cada sessão durava três horas. “Quando eu comecei a narrar esse audiolivro, eu vinha de uma experiência na TV Globo, na previsão do tempo, em que eu ficava dois minutos e meio, no máximo três minutos, no ar com minha voz. Na primeira sessão, foi um susto, um baque”, afirmou.
“Era uma voz que não estava acostumada, com três horas de falar e falar de uma maneira diferente de quando estou lendo com meu marido, que eu estou mais relax, então tem uma tensão”, afirmou. Para “aguentar a jornada”, ela fazia pausas durante as sessões a cada uma hora para beber água e fazer exercícios indicados pela fonoaudióloga da TV Globo.
A jornalista divide o processo de narração em duas fases. Na primeira, enquanto ainda apresentava a previsão do tempo, ela gravava pela manhã, com a voz “tinindo e descansada”, e ia para a Globo à tarde. Na segunda, quando tornou-se apresentadora oficial do Jornal Hoje, entrava às 7h na emissora, onde ficava até 15h e começava a gravar o livro por volta das 17h. “Diminuiu muito o ritmo, a gente levou mais tempo por isso, porque era um cansaço extremo. É um trabalho muito árduo”, contou Maju.
Os bastidores do audiolivro com Maju Coutinho
Matinas Suzuki, diretor de operação da Companhia das Letras, contou alguns detalhes sobre a negociação para lançar a obra no Brasil. Havia, principalmente, um temor financeiro de que a história de uma personalidade norte-americana não desse bons frutos.
“Um dia, fomos comunicados que o CEO da Penguin Random House [grupo editorial ao qual a editora pertence] havia feito um contrato com o casal Obama de US$ 63 milhões pela publicação de um livro dela e de um livro dele e que nós ajudaríamos a pagar a conta. Se não desse certo, estava todo mundo ferrado”, disse entre risos. Também fez parte do contrato uma doação de um milhão de exemplares da obra para instituições nos Estados Unidos.
O diretor conta que todo projeto dos livros do casal foi tocado com sigilo absoluto. “Para nós, tem a dificuldade de que temos de traduzir, então a gente fica esperando ansiosamente quando vão liberar uma parte do livro para a gente poder começar. A capa tem de ser aprovada, o letreiro tem de ser aprovado, a cor da capa tem de ser aprovada”, relatou. As negociações, segundo ele, foram feitas com um advogado, não com um agente literário tradicional.
Suzuki comentou também que, geralmente, livros de presidentes nos Estados Unidos são best sellers, mas os das primeiras-damas nem sempre. No Brasil, obras de presidentes americanos vendem, mas não tão bem, segundo ele. Então, havia dúvidas sobre como a história de Michelle funcionaria.
Mas a autobiografia provou ser um sucesso: duas semanas após o lançamento, a obra já tinha vendido mais de dois milhões de exemplares na América do Norte. Em janeiro de 2019, o livro quebrou recorde ao ocupar o primeiro lugar de mais vendido na Amazon, tirando o trono de Cinquenta Tons de Cinza, de E. L. James, publicado em 2012. No Brasil, ficou como o segundo mais vendido de não ficção, atrás de Aprendizados, da modelo Gisele Bündchen. “O que era um temor, ela fez uma coisa incrível, extraordinária”, disse Suzuki.
Sobre a escolha e aprovação de Maju Coutinho para dar voz à história, a Companhia das Letras disse que foi fácil. “A gente precisava de alguém que tivesse autenticidade, autoridade para usar a voz da Michelle Obama no Brasil, uma pessoa que passasse toda credibilidade e que se identificasse com a história, que seria fundamental para a narrativa”, explicou o porta-voz da editora. “Um dos grandes méritos da Maju foi dar o tom certo.”
Maju Coutinho disse que se identificou e se emocionou ao longo da narração da história de Michelle Obama, que ela já tinha ouvido na voz na própria autora. “Em alguns momentos, eu não me contive, chorava mesmo, porque a história dela é muito emocionante e eu optei por não conter”, afirmou. “Eu acho que tinha que deixar fluir e transparecer essa emoção.”
A jornalista conta que passou ou já viu situações parecidas com as vividas pela ex-primeira-dama. A história das duas são semelhantes: “a Michelle é de outra geração, mas nossas histórias têm muitas intersecções. Mulheres negras de famílias pobres, de classe média, classe média baixa, mulheres negras que as famílias tiveram preocupação com a educação para conseguir a ascensão, então é muito parecido”.
Para Maju, foi uma honra encarar a responsabilidade e o desafio de ser a voz da norte-americana. “Fiquei super feliz porque sempre admirei a Michelle, mesmo antes de conhecer a história dela com mais profundidade. Depois, [veio] aquele frio na barriga intenso, justificável, porque é uma baita responsabilidade, uma mulher desse quilate, com tanta sensibilidade e força, eu fiquei muito assustada, mas feliz também”, disse.
Se tivesse de lançar um livro hoje, a jornalista acredita que histórias como a de Michelle e a dela teriam grande potencial. “Eu acho que essas histórias servem como caminho de luz para as pessoas”.
A obra está disponível exclusivamente no Google Play Livros com preço de R$ 39,99.