O comércio eletrônico foi uma saída encontrada por diversas empresas – e até mesmo pessoas físicas que perderam seus empregos – para amenizar a queda no faturamento após o início do isolamento social pela pandemia do novo coronavírus, em março.
Segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), entre 23 de março e 31 de maio foram criados 107 mil estabelecimentos na internet para venda dos mais variados produtos, o que significa mais de uma nova loja virtual aberta por minuto. Esses números são oito vezes maiores do que a média anterior à quarentena, que era de 10 mil novos estabelecimentos por mês.
“A tendência do e-commerce já vinha em crescimento e a crise causada pela pandemia do novo coronavírus acabou antecipando uma realidade, forçando as empresas a entrar na modalidade por uma questão de sobrevivência”, explica o economista e consultor em finanças empresariais Ricardo Rocha, para quem se trata de “um caminho sem volta”.
O economista ressalta que pela mudança nos hábitos dos consumidores o comércio eletrônico deixou de ser privilégio de grandes empresas. “Hoje os pequenos também estão na plataforma virtual, pela possibilidade de conexão com clientes de vários pontos do país e até do mundo. Não há barreiras quando se trata de e-commerce, ao contrário das lojas físicas que são limitadas ao bairro, região ou cidade”, avalia Rocha.
Se por um lado amplia horizontes, por outro o e-commerce pode complicar o caminho do empresário exatamente por ser essa questão. “O transporte é uma grande dificuldade. Se não tiver uma boa logística não adianta nada infraestrutura, equipe e bons produtos que o negócio não vai pra frente”, garante Amauri Camacho, gerente de distribuição do Ranchão, loja de acessórios e peças para caminhões com sede em Ribeirão Preto e atuação em todo Brasil.
Ele pontua a variedade de rotas e a dificuldade em obter boas negociações com os transportadores como os principais inimigos do empresário que se aventura no comércio eletrônico. “Vendemos em vários estados, seria necessário ir de transportadora em transportadora, além dos Correios, negociar tabelas de frete e acompanhar a logística em cada um. Daria uma grande dor de cabeça e ocuparia mais de um funcionário”, afirma Camacho.
Essa dificuldade foi o que motivou um grupo de jovens empreendedores de Ribeirão Preto a criar, há cerca de dois anos, uma plataforma de fretes para conectar empresas que precisam enviar encomendas com transportadores. “Somos uma tecnologia que faz a intermediação, gestão e conexão de vários pontos”, explicam os sócios fundadores da SmartEnvios, Fábio Farina e Rafael Mazzaron, ao lado de Humberto Zampini.
Com foco principalmente no pequeno e médio cliente, a SmartEnvios negocia com as transportadoras um valor diferenciado e repassa essa condição aos clientes, que sozinhos não conseguiriam o mesmo desconto pelo baixo volume despachado. “Nossos usuários têm diversas opções de frete, desde envios aéreos, rodoviários a Correios, eles podem enviar de pequenos a grandes volumes. Quando é feita uma venda para o Rio de Janeiro, por exemplo, o sistema vai indicar quais são as opções para aquele destino, o valor e o prazo de cada. Aí ele mesmo faz a escolha”, conta Farina.
Os jovens empresários ressaltam que o sistema da SmartEnvios traz inteligência logística e liberdade aos clientes. “Eles nunca ficarão presos a um transportador, vão poder usar o que for mais conveniente, sem quantidade mínima ou obrigação mensal com nenhum deles. Com isso passa-se a utilizar o melhor de cada um, de acordo com volume, distancias e prazos”.
Marco Aurélio Viera, gerente de e-commerce da Kfit, empresa do segmento de saúde e perfomance que atua com comércio eletrônico além de pronto atendimento em loja física, confirma a importância dessa diversidade. “O frete influencia mais de 70% na compra online. Ter à disposição do cliente mais opções significa valores e prazos de entrega menores, o que amplia as vendas”, avalia.
Segundo Vieira, principalmente nas regiões mais distantes, como o Norte, Nordeste e o Sul do País, ter alternativas diferentes de transporte torna sua empresa mais competitiva e amplia as vendas.
Outro destaque, principalmente para os pequenos negócios, que possuem estruturas enxutas de pessoal, é a possibilidade de unificar diversas etapas e processos. “Com uma única coleta a empresa consegue despachar para diversos transportadores, ganhando agilidade. Além disso a fatura e o rastreamento das mercadorias até a entrega é única. E, caso tenha algum problema, nosso SAC está à disposição para dar todo suporte se o parceiro não quiser acionar a transportadora”, diz o diretor da SmartEnvios.
Tais vantagens, assegura Farina, conquistaram também grandes empresas. “Apesar de muitas vezes conseguirem uma boa negociação, elas nem sempre controlam a gestão dos transportes. Então nós resolvemos o problema com inteligência logística”, completa.
Startup tem crescimento acentuado
A SmartEnvios é uma startup fundada em agosto de 2018, por Rafael Mazaron, Fábio Farina e Humberto Zampini, diretor do Grupo Imediato, empresa com forte atuação no mercado de logística. “Nós observamos uma necessidade no mercado e iniciamos a operação “, conta Farina.
Atualmente a SmartEnvios atende empresas de Ribeirão Preto e cidades da região, como Sertãozinho, Brodowski, Cravinhos e Batatais, mas a ideia é nos próximos meses ampliar a área de atuação. “Nosso projeto é crescer por meio de franquias. O foco é expandir a SmartEnvios para o Brasil todo”, garante o empresário.
Farina explica que a SmartEnvios possui um número expressivo de usuários ativos, dos quais mais de 60% utilizam diariamente os serviços de inteligência logística. Esse número cresce em média 20% ao mês, com picos de até 30%. “Sentimos que até mesmo durante a pandemia houve um grande aumento na demanda”, afirma.
Convite para o Cubo Itaú
Esse crescimento acelerado em apenas dois anos levou a SmartEnvios a ser convidada a fazer parte do Cubo Itaú, considerado um dos maiores e mais relevantes centros de empreendedorismo tecnológico da América Latina, idealizado pelo banco Itaú Unibanco em parceria com o fundo de investimentos Redpoint eVentures.
Criado há cinco anos, o Cubo Itáu tem como objetivo conectar empreendedores, grandes empresas, investidores e universidades para discutir sobre tecnologia, inovação, novos modelos de negócios, novas formas de trabalhar e como desafiar o status quo, visando um mundo melhor.
“Diria que hoje se trata da maior aceleradora e mantenedora de startups do país. Receber a chancela do Cubo e ser aceito em um ecossistema como esse é motivo de muito orgulho. Nos sentimos muito honrados”, garante o sócio Rafael Mazzaron.
Rapidez na entrega determina compras futuras
A explosão do e-commerce acelerada pela pandemia trouxe uma nova preocupação: a agilidade e qualidade na logística. Segundo a pesquisa 2018 Global Consumer Insights Survey, realizada pela PwC com mais de 22 mil consumidores online em 27 países, 88% dos compradores digitais estão dispostos a pagar mais por uma entrega mais rápida.
“É fato que muitas pessoas determinam suas compras pelo fator rapidez na entrega, tanto antes quanto agora na pandemia”, afirma o economista e consultor em finanças empresariais Ricardo Rocha, sócio da Planegi Consultoria Empresarial.
Diante deste comportamento, o economista afirma que as empresas que oferecerem o serviço terão mercado extremamente favorável para ser explorado. “Uma plataforma de negociação de frete, que garanta a intermediação entre vendedores e compradores, é muito importante para garantir essa cadeia de suprimentos. Vejo com bons olhos grandes oportunidades para aqueles que oferecerem soluções logísticas”, completa.