Adalberto Luque
Lucas dos Reis Alves estava em São Paulo, na avenida Cruzeiro do Sul, próximo ao Metrô Santana. Era fevereiro de 2022. Um rapaz passou na calçada de bicicleta bem próximo dele. Ao procurar o celular para tentar localizar um ponto de ônibus por um aplicativo, não encontrou. Olhou e viu seu aparelho sendo levado, já longe, pelo rapaz de bicicleta.
Quando deu conta do furto, veio a preocupação. “Minha primeira reação foi ir atrás de alguém para conseguir bloquear meu celular. Tenho algumas ferramentas que ajudam nesse sentido. Fui atrás de pessoas que pudessem me emprestar um celular para ligar para minha família para que pudessem bloquear meu aparelho de casa”, lembra Alves.
Ele tem um dispositivo chamado “Find My Device” da Google. Tem também um serviço do fabricante de seu celular. Mas ambos precisam de internet e confirmação. O que o salvou foi mesmo o antivírus que, ao pedir acesso, sem confirmação, bloqueou todas as suas informações.
“O aparelho não foi recuperado, mas no mesmo dia eu fiz o B.O. online, bloqueei todas as contas de banco, o chip e coisas do tipo. Pouco tempo depois descobrir que ali, na avenida Cruzeiro do Sul, exatamente onde eu estava, é o segundo local com mais roubos e furtos de celular desta forma”, conclui.
Mais de 100 mil
De acordo com levantamento feito pelo Departamento de Economia do Crime da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) realizado a partir da compilação de boletins de ocorrência registrados pela Secretaria de Segurança Púbica (SSP), o ano de 2022 foi marcado por uma alarmante escalada no número de roubos e furtos de celulares no estado de São Paulo.
De acordo com a pesquisa, foram registrados 65.704 boletins de ocorrência de roubo, com um aumento de 34,81%, em relação a 2021. Já com relação aos furtos, foram 51.115 ocorrências, com um crescimento de 54,6% em comparação ao ano de 2021, indicando um aumento significativo na criminalidade relacionada a este tipo de crime.
“É fundamental que as pessoas estejam atentas à segurança de seus pertences e tomem medidas preventivas para evitarem serem vítimas desse crime. Com esses dados em mente, é possível reforçar a importância da conscientização e da prevenção contra o roubo de celulares, que tem afetado a vida de inúmeras pessoas em todo o Estado de São Paulo”, diz o pesquisador responsável pelo levantamento, Erivaldo Vieira.
A cidade de São Paulo lidera a lista de cidades onde houve mais furtos de celulares no estado, seguida de Campinas, Guarulhos, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Franca, Osasco, São Bernardo do Campo, São José dos Campos e Sorocaba.
De acordo com o levantamento, a maior parte dos furtos aconteceu em vias públicas, representando 51,79% dos casos. Em seguida, temos os furtos em residências, com 16,82%, e em comércios e serviços, com 12,35%. Terminais/ estações e locais de lazer e recreação também foram locais com certa frequência de furtos, representando 6,94% e 4,60% dos casos, respectivamente. No total, 116.819 celulares foram furtados ou roubados no Estado de SP em 2022.
Mais de 3,5 mil em Ribeirão
Os criminosos agiram bastante em Ribeirão Preto, durante o ano de 2022. Foram 1.968 furtos e 1.535 roubos de celulares. Em 2022 a SSP registrou 3.503 furtos e roubos de smartphones. Boa parte das ocorrências foi registrada durante grandes eventos, como shows de rock, sertanejo, rodeios e em estádios de futebol.
Num único mês, em junho, 216 celulares foram furtados na área do 2º Distrito Policial (DP), que atende a região dos Campos Elíseos. Quase 200 dos casos foram registrados no recinto do Parque Permanente de Exposições, na Zona Norte de Ribeirão Preto.
Outro ponto que registra muitos furtos e roubos de celulares é a região próxima ao Terminal Rodoviário de Ribeirão Preto. Nas ruas do entorno do terminal intermunicipal ocorrem a maior parte dos furtos e roubos. Desta forma, dependendo de onde a ação criminosa ocorre, o registro pode ser feito no 1º DP (Centro) ou no 3º DP (Vila Tibério, Zona Oeste).
Ranking negativo
Entre os furtos de celular, de acordo com dados da SSP, a região do 2º DP, nos Campos Elíseos, lidera com muita vantagem. Em 2022, foram furtados 610 aparelhos somente na área desta delegacia. No segundo lugar do ranking de furto está o 4º DP, na Zona Sul, com 357 casos – muitos dos quais ocorrendo em bares, quando há momentos de distração com os celulares. Em seguida aparece o 1º DP, da região Central de Ribeirão Preto, com 244 casos.
Já em relação aos roubos, o 3º DP, na região da Vila Tibério, lidera as estatísticas. É bom destacar que é considerada roubo a ação violenta, praticada geralmente sob ameaça de uma arma de fogo ou branca, onde o bem é levado mediante ameaça. Na área do 3º DP foram registrados 361 casos de roubo. Praticamente um por dia em 2022. Em segundo lugar vem o 2º DP, que também lidera os casos de furto. Foram 267 roubos no ano passado. Em terceiro está o 5º DP, da região do Marincek.
A rota dos celulares furtados e roubados
O delegado responsável pela Divisão Especial de Investigações Criminais (DEIC) de Ribeirão Preto, Kleber de Oliveira Granja, explica que os celulares furtados ou roubados têm cinco destinos principais.
1. Moeda de troca em pontos de micro traficância.
1.1. Microtraficantes revendem para receptadores/comerciantes.
2. Receptadores intermediários revendem para compradores de boa e má-fé.
3. Receptadores intermediários negociam com comerciantes que fomentam o comércio ilícito de peças para reposição.
4. Receptadores intermediários repassam para esquema internacional de contrabando.
5. Receptadores intermediários negociam por meio de sites a revenda de aparelhos mesmo bloqueados. “Ora o comprador é de boa fé e cai no golpe ou ora o comprador tem expertise em desbloquear o aparelho”, revelou o delegado.
Um dos esquemas de contrabando citado pelo delegado tem como roteiro países africanos. Numa única apreensão em operação conjunta entre Receita Federal e Polícia Civil, mais de 550 aparelhos foram apreendidos no Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos.
A maioria deles furtados no carnaval do ano passado. Entre os suspeitos presos, todos seguiriam para Dacar, no Senegal, ou Abuja, na Nigéria. Ambos os países africanos, onde não é exigida a comprovação de origem e não há controle de IMEI, o número de identificação do celular.
Nunca é demais lembrar que há riscos de se comprar um celular sem conhecer sua procedência. Os preços baixos podem ser atraentes, mas comprar um equipamento furtado ou roubado é considerado crime de receptação e pode resultar em prisão. A velha máxima do “barato que sai caro”.
O que fazer se levarem o seu celular
– Antes de perdê-lo para criminosos, faça sempre backup no seu celular e busque proteger dados sigilosos que lá estiverem armazenados;
– O primeiro passo é elaborar um boletim de ocorrência, seja presencialmente ou através da internet. No site da Polícia Civil há orientações nesse sentido;
– Dependendo da disponibilidade dos policiais, é possível tentar rastrear o aparelho. Mas só faça isso para informar aos policiais, pois ir atrás por conta própria pode ser perigoso;
– Bloquear o aparelho através de seu IMEI, ligando para a operadora de telefonia móvel, também efetuando o cancelamento do chip;
– Caso seu aparelho seja segurado, acione a seguradora e solicite auxílio em todos os passos.
SSP fala em redução de furtos e roubos em 2023
O estado de São Paulo registrou, durante o carnaval deste ano, 3.486 roubos e furtos de celular, de acordo com dados publicados no site da SSP. A pasta fala em 629 prisões durante a Operação Carnaval. Em nota, a SSP destaca o trabalho para reduzir esses índices.
“A SSP esclarece que as forças de segurança trabalham constantemente para reduzir os roubos e furtos de celulares em todo o Estado, inclusive na cidade de Ribeirão Preto. As ações estão voltadas para a recuperação dos aparelhos subtraídos, por meio de patrulhamento e fiscalização de estabelecimentos comerciais e assistências técnicas. Neste ano de 2023, já foram registrados 595 boletins de celulares recuperados. A atuação de 14 mil policiais, fardados e à paisana, no período carnavalesco contribuíram para as apreensões. As vítimas desse tipo de crime são notificadas para restituição e o não comparecimento resulta na apreensão e decisão judicial sobre o destino dos mesmos.”