Tribuna Ribeirão
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Mãe: Lições de Carlos Drummond de Andrade

Para Sempre
Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
– mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
(CDA, Lição das Coisas)


 

Carta
Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as noticias.
Eu mesmo envelheci:
Olha, em relevo, estes sinais em mim,
não das carícias (tão leves) que fazias no meu rosto:
são galopes, são espinhos,
são lembranças da vida a teu menino,
que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.
A falta que me fazes
não é tanto à hora de dormir,
quando dizias “Deus te abençoe”,
e a noite abria em sonho.
É quando, ao desperta,
revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.
(CDA, Lição das Coisas)

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