O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela proclamou, na tarde desta segunda-feira, 29 de julho, Nicolás Maduro como presidente do país para o período de 2025 a 2030, para exercer seu terceiro mandato. Ao receber o mandato do CNE, Maduro acusou um suposto golpe de Estado que estaria sendo gestado no país.
“Não é a primeira vez que enfrentamos o que hoje estamos enfrentando. Está se tentando impor na Venezuela um golpe de Estado, novamente de caráter fascista e contrarrevolucionário. Eu posso denominá-lo de uma espécie de Guaidó 2.0”, afirmou Maduro.
Juan Guaidó foi um deputado da Assembleia Nacional do país que, em janeiro de 2019, autoproclamou-se presidente da Venezuela, tendo sido reconhecido por cerca de 50 países, entre os quais, Estados Unidos e membros da União Europeia.
“[São] os mesmos países que hoje questionam o processo eleitoral venezuelano”, disse Maduro. “A mesma ultradireita, os mesmos grupos dirigidos pelo império norte-americano, ensaiam a mesma operação”, acrescentou.
Maduro venceu as eleições presidenciais do domingo (28). Com 80% das urnas apuradas, obteve mais de 5,15 milhões (51,20%), segundo o Conselho Nacional Eleitoral, controlado pelo chavismo. O candidato opositor, Edmundo González Urrutia, tinha 4,4 milhões de votos (44,2%).
O CNE denunciou que um ataque hacker tentou desestabilizar a totalização dos votos na Venezuela, o que teria atrasado o anúncio do resultado. Em pronunciamento nesta segunda-feira, o fiscal-geral do país, Tarek William Saab, disse que o ataque foi promovido do exterior e teria o envolvimento da líder da oposição María Corina Machado, que deve ser investigada.
Corina Machado ainda não se manifestou sobre a denúncia. Ainda segundo Tarek, o CNE deveria publicar nesta segunda-feira (29) todas as atas eleitorais das mais de 30 mil mesas de votação, “tal como historicamente se tem feito graças ao sistema automatizado de votação”.
Com a publicação, é possível verificar se as atas em poder do CNE são as mesmas impressas na hora da votação e que foram distribuídas aos fiscais da oposição ou aos observadores nacionais e internacionais. A campanha do opositor González Urrutia, liderada por María Corina Machado, se queixou de que o chavismo havia interrompido a transmissão dos resultados.
“Nenhum fiscal eleitoral deixa a seção sem a ata da urna. Nossas testemunhas têm o direito de obter seu certificado. Esse é o momento mais crítico e o melhor modo de nos defendermos é estando presentes na seção eleitoral. O mundo está conosco”, disse ela, na sede do QG da campanha.
Delsa Solórzano, uma das líderes da campanha opositora, também se queixou que o CNE estava impedindo a entrada de representantes da oposição. “Disseram que era melhor eu ir embora em nome da minha segurança”, afirmou.
Com as atas emitidas ao fim da votação e a auditoria das urnas, a oposição esperava fazer uma espécie de apuração paralela para comparar com os resultados a serem divulgados pelo CNE. O temor é de que o conselho, aparelhado por funcionários chavistas, altere os resultados.
Na reta final da campanha, Maduro e seus aliados mais próximos afirmaram que respeitariam os resultados “divulgados pelo CNE”. Analistas e opositores passaram os últimos dias especulando como ele tentaria reverter o resultado em caso de derrota.
No fim de semana, Maduro impediu a entrada de observadores convidados pela oposição. Durante o período de registro, restringiu a inscrição de venezuelanos no exterior, a maioria refugiados que detestam o regime. Cerca de cinco milhões foram impedidos de votar fora da Venezuela.
“Peço respeito à vontade popular. Temos um sistema eleitoral exemplar”, afirmou o ditador venezuelano, em discurso logo após o anúncio da autoridade eleitoral. A mensagem inicial de Maduro foi de que em seu terceiro mandato haverá paz, estabilidade, respeito à lei e justiça. Milhares de venezuelanos saíram às ruas de Caracas para protestar.
Brasil – O Ministério das Relações Exteriores (MRE) informou, por meio de nota, que aguardava nesta segunda-feira, 29 de julho, a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela dos “dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito”.
O comunicado diz que o Brasil “reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observadora por meio da verificação imparcial dos resultados”. O Itamaraty também cumprimentou a Venezuela pelo fato das eleições terem sido realizadas em clima pacífico.
Agência Estado/AP