O preço da arroba do boi gordo, que em Ribeirão Preto registrou aumento real de 40% em um mês – no estado de São Paulo a média é de 35% –, não vai mais retornar ao patamar anterior. A afirmação é da ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Ela diz que a alta das exportações para a China teve forte impacto na valorização do produto. O que também ajudou a puxar o aumento, segundo ela, teria sido a falta de reajuste nos preços nos últimos três anos.
O presidente Jair Bolsonaro, em transmissão pela internet, chegou a declarar que a ministra havia garantido que, daqui a três ou quatro meses, o preço da carne voltaria à normalidade. Algumas redes de supermercados têm afirmado que a exportação de carne está limitando a oferta da proteína no País, além de inflacionar o produto. A ministra nega falta de oferta para o mercado nacional.
“Não é verdade. Primeiro, o Brasil tem 215 milhões de cabeças de gado. Então, não é um rebanho para acabar amanhã. Segundo, realmente o mercado chinês mexeu com as exportações, e não só da carne brasileira, mas da carne argentina, paraguaia, uruguaia. É muito grande a necessidade da China.”
“Além de o Brasil abrir as exportações, temos de lembrar que o boi tinha um preço represado há três anos. O pecuarista estava tendo prejuízo nesse período”, declara a ministra. “Antes, o produtor vendia uma arroba por R$ 140, em média. O que aconteceu é que, nesse primeiro momento de abertura, com a China pagando um preço muito bom, houve esse momento, digamos, de euforia. Em São Paulo, uma arroba está sendo vendida a R$ 231.”
Em menos de três meses, o contrafilé registrou índices de aumento acima de 50% e o coxão mole, de 46%, no preço de custo que acaba sendo repassado ao consumidor, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). O Ministério da Agricultura afirmou que está acompanhando de perto a situação e acredita que o mercado “vai encontrar o equilíbrio”.
“Não é papel do ministério intervir nas relações de mercado. Os preços são regidos pela oferta e procura. Neste momento, o mercado está sinalizando que os preços da carne bovina, que estavam deprimidos, mudaram de patamar”, afirma, em nota. Questionada se continua a consumir carne vermelha, Tereza Cristina respondeu em tom de brincadeira: “Estou comendo frango. Agora, é só frango”.
Risco de desabastecimento
A elevação no ritmo de exportações de carne bovina para a China provocou uma alta nos preços internos da proteína, mas não gera risco de desabastecimento, diz o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres. “Não há nenhuma possibilidade de faltar carne para o consumidor”, afirma. Passada a euforia maior no mercado físico, a tendência é de que o ritmo dos negócios mantenha os preços da arroba do boi próximos dos atuais níveis até o fim deste ano, estima o especialista.
Inflação
O aumento do preço da carne bovina puxado pelo crescimento das exportações do produto para o mercado chinês e alta do preço do boi gordo foi um dos principais fatores de pressão sobre a inflação dos produtos industriais na porta de fábrica nos últimos três meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Índice de Preços ao Produtor (IPP), que inclui preços da indústria extrativa e de transformação, registrou alta de 0,64% em outubro, a terceira consecutiva, divulgou o instituto na sexta-feira, 29 de novembro. Com alta de 2,12% – a maior desde junho de 2018 – os preços dos alimentos exerceram a principal influência sobre o resultado geral da indústria (0,47 ponto percentual). Em seguida veio a atividade de refino de petróleo e produtos de álcool, com alta de 4,04% e influência de 0,41 ponto percentual.
O preço da arroba (15 quilos) do boi gordo está hoje na casa dos R$ 200. Em São Paulo, a arroba teve aumento real de 35% em um mês. Vendida até o mês passado por R$ 140, em média, chegou nesta semana a ser negociada por R$ 231. Com o resultado de outubro, o setor de alimentos já acumula alta de 4,17% no IPP em 2019. Os destaques são justamente “carnes de bovinos frescas ou refrigeradas” e “produtos embutidos ou de salamaria de suíno, exceto pratos prontos”.
O efeito do preço da carne vermelha no valor do frango e do peixe está sendo analisado de perto pelo governo. A avaliação é de que a inflação de outras carnes seria um movimento natural de livre mercado, ou seja, com o aumento da procura por frango e também por peixe, é de se esperar que haja reajuste nos preços desses itens, principalmente nesta época de fim de ano.