Tribuna Ribeirão
Cultura

Lustre de 1,4 tonelada passa por limpeza

FOTO: RUBENS OKAMOTO/ARQUIVO

A limpeza do lustre de cris­tal “Gota D’Água”, obra de arte de Tomie Ohtake (1913-2015), artista plástica japonesa natu­ralizada brasileira, encerra os trabalhos de limpeza, manu­tenção e reparos do Theatro Pedro II – terceiro maior teatro de ópera do Brasil, referência histórico-cultural para a região de Ribeirão Preto. O serviço terá início nesta quarta-feira, 4 de março, a partir das 9h30, e deve terminar na sexta-feira (6), na véspera da reabertura do espaço ao público.

A limpeza do lustre de cris­tal requer todo o cuidado e a realização de uma operação que leva cerca de três dias, desde a retirada do lustre para limpeza, troca de lâmpadas e restauro até ser novamente içado até o teto. Mariana Jábali, presidente da Fundação Dom Pedro II, desta­ca que é gratificante contribuir com a preservação do Theatro Pedro II. “A limpeza e manu­tenção do lustre concebido pela Tomie, importante artista que trouxe uma linguagem contem­porânea para este patrimônio, é o ápice da manutenção do tea­tro. Essa limpeza simboliza que o Pedro II está pronto para o iní­cio da temporada”, diz.

Desenhado por uma das principais artistas plásticas do Brasil, o lustre de cristal “Gota D’Água” é coberto por uma cú­pula de gesso estrutural, com a fixação de lâmpadas especiais que fazem suas luzes passar por entre os recortes, criando um efeito escultural único. Com 1,4 mil quilos, tem 2,7 metros de altura por 2,2 metros de lar­gura e possui mais de 80 lâm­padas que serão todas trocadas nesta quarta-feira, quando a peça começa a passar pelo ser­viço de manutenção.

Durante os meses de janei­ro e fevereiro, o Theatro Pedro II permaneceu fechado para re­ceber as manutenções e restau­ros necessários para a abertura da temporada de espetáculos em 2020. A programação cul­tural terá início neste sábado, 7 de março, com o show “Queen Experience In Concert”. Ge­ralmente, os serviços ocorrem no primeiro mês do ano, mas em 2020 o período será mais extenso por causa dos prepa­rativos para a celebração de 90 anos do prédio histórico.

Este é o terceiro maior te­atro de ópera do Brasil e refe­rência histórica cultural para a região, assim como para todo o país. O prédio é tombado como Patrimônio Cultural pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Artísti­co, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Con­dephaat) e as obras são ne­cessárias para preservação de suas características originais.

O Theatro Pedro II vai com­pletar 90 anos em 8 de outubro de 2020. Em junho de 2017, o então governador Geraldo Alck­min (PSDB) esteve em Ribeirão Preto para assinar a “escritura” que finalizou o processo de do­ação do prédio histórico ao mu­nicípio, que já tinha a permissão para uso do espaço. É o palco principal da Orquestra Sinfôni­ca de Ribeirão Preto (Osrp).

O teatro foi construído entre 1928 e 1930 a pedido do advoga­do João Alves Meira Júnior, um dos fundadores da Cia. Cerve­jaria Paulista. O projeto foi ela­borado pelo arquiteto Hippolyto Gustavo Pujol Júnior, e a parte estrutural da construção coube à empresa alemã Kemmitz. Em 15 de julho de 1980, durante a exibição do filme “Os Três Mosqueteiros Trapalhões”, um incêndio destruiu a cobertura, o forro do palco e grande parte do interior, incluindo-se o teto.

A reconstrução só teve iní­cio mais de dez anos depois, em 1991, liderada pela construtora Jábali Aude. A reinauguração aconteceu em 1996. Durante cinco décadas, foi a principal referência cultural da cidade e centro de acontecimentos políti­cos e sociais, recebendo grandes companhias teatrais e operísti­cas do exterior.

Na década de 1960, o prédio passou por reforma que o des­caracterizou. Vários elementos decorativos foram destruídos, a plateia foi reduzida e placas de madeira encobriram camaro­tes, frisas e galerias laterais para transformá-lo em cinema. Os sinais da decadência levaram o teatro a mudar de proprietários.

A Companhia Cervejaria Antarctica adquiriu a Compa­nhia Cervejaria Paulista, antiga proprietária. Entre as décadas de 1950 e 70, o subsolo do te­atro foi transformado em sa­lão de bailes de carnaval. Fora do período carnavalesco, era transformado em sala de jogos. O local ficou conhecido como “Caverna do Diabo”.

Depois do incêndio, campa­nhas pedindo a preservação do patrimônio foram realizadas e, no dia 7 de maio de 1982, o pré­dio foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio His­tórico Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Pau­lo (Condephaat).

Na fase de reforma, a cúpu­la metálica da plateia principal foi reconstruída pela artista plástica Tomie Ohtake e a cai­xa cênica foi rebaixada em seis metros. Foi criado um subsolo com mais dois níveis: espaços para serviços de apoio artísti­co, oficina de cenário, carpin­taria e almoxarifado técnico. Os ferros retorcidos na cúpula do teatro são uma alusão às chamas do incêndio de 1980, ideia de Tomie Ohtake.

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