Tribuna Ribeirão
Política

Lula quer atrelar mínimo ao PIB

MARCELO CAMARGO/AG.BR.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assinou despacho que cria um grupo de trabalho interminis­terial para formular, em até 90 dias, uma política de valoriza­ção do salário mínimo. O ato ocorreu em cerimônia com lideranças de centrais sindi­cais, realizada na manhã desta quarta-feira, 18 de janeiro, no Palácio do Planalto.

O GT envolverá pastas como a da Fazenda, Trabalho, Planeja­mento, Previdência, Secretaria­-Geral, Casa Civil e Indústria e Comércio. Segundo o despacho, o grupo terá 45 dias, prorrogá­veis pelo mesmo período, para apresentar a política. O governo discute qual será o novo valor do salário mínimo deste ano, que atualmente está em R$ 1.302, conforme orçamento de 2023, que foi elaborado pelo governo Bolsonaro, mas será executado pela gestão de Lula.

Inicialmente, o reajuste se­ria para R$ 1.320, o que geraria custo anual de R$ 7,016 bilhões para os cofres federais. O presi­dente, no entanto, estuda atu­almente aumentar o valor para acima disso. As centrais sindi­cais defendem R$ 1.343. O rea­juste para o valor pretendido pe­las entidades pode gerar despesa extra na faixa dos R$ 15 bilhões para o governo.

Lula defendeu, em discurso nesta quarta-feira, que o salário mínimo precisa crescer de acor­do com a expansão do Produto Interno Bruto (PIB). “O salário mínimo tem que crescer confor­me o PIB”, afirmou. As declara­ções foram feitas em cerimônia que instalou o GT. Ele pediu também as entidades sindicais na construção de “nova relação entre capital e trabalho”.

O aumento para além dos R$ 1.320 encontra resistência no Ministério da Fazenda, devido ao cenário de déficit fiscal nas contas públicas. O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, garan­te que a valorização do salário mínimo respeitará a “previsibili­dade da economia”. Segundo ele, com o reajuste, haverá o aumento do poder de compra do salário, mas será mantida uma inflação controlada. O valor atual, de R$ 1.302, poderá ser revisado até 1º de maio. Será mantido até lá.

O salário mínimo de R$ 1.302 representa reajuste 1,4% acima da inflação do ano passa­do, segundo o ministro Fernan­do Haddad. Os R$ 6,8 bilhões destinados pela Emenda Cons­titucional da Transição mostra­ram-se insuficientes para bancar o aumento dos benefícios do Instituto Nacional do Seguro So­cial (INSS) atrelados ao salário mínimo. A forte concessão de aposentadorias e pensões no se­gundo semestre do ano passado criou um impacto maior que o estimado para os gastos do INSS.

Para cada R$ 1 de aumento no piso, são mais R$ 388 milhões de impacto nas contas do gover­no. É que boa parte das despesas, principalmente da Previdência Social, é vinculada ao valor do salário mínimo. Em dezembro, o piso ideal necessário para su­prir as despesas de um trabalha­dor e da família dele deveria ser de R$ 6.647,63, ou 5,48 vezes o piso nacional de R$ 1.212.

Os dados têm por base o pre­ço da cesta básica de São Paulo (SP), de R$ 791,29, a mais cara observada pela pesquisa mensal do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socio­econômicos (Dieese). O valor estimado pelo Dieese bancaria as despesas com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.

Em dezembro de 2021, o salário mínimo necessário seria de R$ 5.800,98, ou 5,27 vezes o valor vigente na época (R$ 1.100). O Dieese calcula que, em dezembro, seriam necessárias 122 horas e 32 minutos para que um trabalhador que recebe o mínimo legal pudesse comprar o conjunto de itens da cesta básica e outros produtos e ser­viços. No mesmo mês de 2021, a jornada necessária era de 119 horas e 53 minutos.

Quando se compara o cus­to da cesta com o salário míni­mo líquido, ou seja, após o des­conto referente à Previdência Social (7,5%), verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu, em dezembro, 60,22% do piso para comprar os alimentos bá­sicos para uma pessoa adulta. No mesmo período de 2021 ficou em 58,91%.

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