A excelente escritora Isabel Allende acaba de lançar novo livro – Longa Pétala de Mar – onde aborda a guerra civil espanhola e a revolução chilena que apeou do poder seu primo Salvador Allende. O fio que liga os dois eventos gira em torno de Victor Dalmau, estudante de medicina que abandona o curso para se alistar nas tropas republicanas espanholas e dedica-se ao cuidado de feridos da guerra.
Com a derrota para as forças nacionalistas, Victor Dalmau emigra para o Chile, onde termina seu curso e torna-se amigo do médico Salvador Allende, com quem partilha paixão pelo xadrez.
Óbvio que há mais estórias em torno do assunto, que não conto para não antecipar o prazer de ler a excelente prosa da autora. Recomendo muito a leitura do livro.
A Guerra Civil Espanhola foi um dos mais sangrentos conflitos contemporâneos. A Espanha era governada por uma das mais antigas monarquias da Europa, nascida da união dos reinos de Aragão e Castela, no século XVI. Entre 1873 e 1874, o país viveu a primeira experiência republicana, que resultou infrutífera e a monarquia foi restaurada. Nos anos 1930, refletindo a enorme agitação europeia e mundial pós crise de 1929, os socialistas e comunistas pressionaram para a proclamação da II República, o que foi feito através de plebiscito, em 1931.
Isto gerou uma enorme tensão entre as forças políticas espanholas: de um lado, socialistas e comunistas. De outro católicos, conservadores e o Exército. Em 1936, estourou a guerra civil, que durou até 1939. Foram quatro anos de mortes fraticidas, que contaram com apoios internacionais: a União Soviética apoiando os republicanos, a Alemanha e Itália apoiando os nacionalistas monarquistas. A Espanha serviu de campo de prova de novas armas e técnicas de guerra.
A aviação alemã aperfeiçoou-se no céu espanhol. A famosa tela de Pablo Picasso, Guernica, estampa os horrores destas investidas. O terror surgia em ambos os lados, com assassinatos, estupros, destruição de cidades e monumentos históricos. A guerra terminou com a vitória dos monarquistas comandados pelo General Francisco Franco, que permaneceria como regente do trono e ditador do país por 36 anos.
O Chile recebeu os primeiros navegadores europeus em 1520, na viagem de Fernão de Magalhães que, pela primeira vez, circunavegou a Terra. Colônia espanhola até 1818, neste ano declara sua independência e torna-se uma República Parlamentar, dominada pelos latifundiários, burqueses e pela aristocracia local. Nos anos 1925, a política chilena é polarizada entre os radicais, os democratas e os socialistas.
A crise de 1929 atinge mortalmente o país, que depende da exportação do salitre e das minas de cobre. Há um grande avanço dos socialistas e, em 1970, Salvador Allende é eleito presidente, com a promessa de instaurar um regime socialista no Chile, o que provoca mais agitações. Em 1973, o General Augusto Pinochet, Comandante do Exército, desfere um golpe militar, tornando-se ditador do país.
Segue-se uma terrível repressão, com assassinatos de adversários, fuga de pessoas, eliminação dos direitos constitucionais. Por anos, Pinochet empreende mudanças econômicas, estimulado pelas ideias da Escola de Chicago, mas é derrotado em plebiscito. Redemocratizado, o Chile torna-se o país mais desenvolvido da América Latina, até que, recentemente, para surpresa geral, estouram manifestações populares, que expõem a grande distância entre as classes, a falta de ensino de qualidade e as fracas aposentadorias.
Neste contexto histórico, a autora desenvolve seu romance, com escrita leve, gostosa de se ler. Vale a leitura do livro.