Em livro recém-lançado, o médico veterinário Cléber Isbin conta como deixou o mundo das drogas e passou a se dedicar às corridas de ruas e ultramaratonas
Geralmente quando tira a droga é como se ficasse um buraco e isso pode ser substituído por compulsão por jogos de azar, sexo, comida, mas eu procurei o esporte
Por Fabiano Ribeiro
“Quem poderia botar fé que eu, que fui usuário de crack por 10 anos, seria ultramaratonista, campeão dos 67km do desafio Samurai e convocado para a seleção brasileira de ultramaratona? Se eu pude, você também pode”. Dessa maneira o médico veterinário Cléber Castilhano Vilares, ou como é mais conhecido, Cléber Isbin, de 37 anos, de Jardinópolis, faz uma chamada para seu livro: ‘Correndo das Drogas’, publicado recentemente.
Em 9 julho de 2008, Isbin decidiu ficar ‘limpo’ das drogas. Ele buscou a ajuda de um psiquiatra que sugeriu que procurasse algum esporte para substituir o prazer do crack. Nascia ali um atleta. “Geralmente quando tira a droga é como se ficasse um buraco e isso pode ser substituído por compulsão por jogos de azar, sexo, comida, mas eu procurei o esporte”, conta. “Eu comecei a ir na academia de duas a três vezes por semana e aquecia 15 minutos na esteira. Foi quando ouvi dizer que teria uma corrida em Ribeirão Preto, em setembro de 2008. Fiz a inscrição e fui para essa corrida e depois que cruzei a linha de chegada, descobri que poderia fazer algo para minha felicidade. Que eu poderia produzir minha própria felicidade e não precisava mais comprar essa felicidade de um traficante”, conta.
Isbin diz que antes de começar a correr ele era usuário ativo de drogas. “Eu vivia para usar drogas e usava drogas para viver. Minha vida era acordar e buscar alguma droga de alguma maneira”, lembra. O veterinário conta que a corrida foi uma ferramenta de recuperação. “A corrida me gerava prazer, disciplina, metas e eu buscava sempre melhorar mais e tirar o melhor de mim. Gosto e gostava de treinar para suprir esse desafio que tenho comigo mesmo. Eu quero sempre dar um passo além do meu limite”, ressalta.
Depois da primeira corrida em setembro de 2008, Isbin não parou mais de correr. Pelos resultados expressivos que conseguiu e pela sua história de vida, se tornou referência. Participou com excelentes resultados de provas importantes, como por exemplo, ser o campeão do famoso ‘Desafio do Samurai’, com a somatória de tempos de uma meia maratona, 21km, e uma maratona, 42km, na Serra do Rio Rastro, com subidas difíceis até para veículos. Representou o Brasil na seleção de ultramaratonistas e em provas conceituadas internacionais, como a Comrades (África do Sul), de 87km, onde conseguiu o melhor tempo de um estreante sul-americano na prova que é considerada a rainha das ultramaratonas.
Atualmente Isbin realiza trabalho voluntário contando a sua história em escolas e ONGs. “A corrida é algo que me mostra que sou capaz, mesmo quando penso que não sou. Eu consegui e acredito que, compartilhando o caminho que trilhei, posso levar todo mundo que tem força de vontade ladeira acima”, diz. “Eu conto minha história. Não tento convencer nenhuma pessoa. Eu tento plantar uma reflexão sobre quais são as verdadeiras consequência do uso da droga. Em minha vida foram devastadoras. Tento ser motivo de reflexão e esperança na vida dos familiares de usuários de drogas, pois tem possibilidade de ter muito prazer sem as drogas. Eu antes eu acreditava que não existia prazer, mas agora dou exemplos concretos que isso é possível”, finaliza.
O livro Correndo das Drogas pode ser adquirido pela internet pelo site www.cleberisbin.com.
Ariman encontrou vida nas corridas
Usuários de drogas e álcool, o servente de pedreiro, Arilson Silva, 48 anos, de Brodówski, no dia 16 de janeiro de 2015, chegou em casa e decidiu que não queria mais aquela vida. Sem ter o que fazer e com a cabeça confusa, Arilson, decidiu caminhar, trotar e correr. Nunca havia corrido. Foi de sua cidade à vizinha Batatais e retornou. Era o seu primeiro treino: 21km. Encontrou prazer e uma maneira de deixar os vícios. Quatro meses depois participava de uma prova de ultramaratona. Hoje é recordista sul-americano nas provas de 48 horas com a rodagem de 352 km. O recorde não entrou para o Guiness Book por falta de recursos financeiros. Arilson Silva se tornou o Ariman. Participa de provas importantes e detêm marcas incríveis.
“A corrida salvou minha vida. Hoje vivo de corrida com a ajuda de apoiadores. Mas meu objetivo maior é mostrar que é possível deixar o mundo das drogas. Além disso, Ariman, realiza palestras e conta sua história de superação. “É um erro pensar que as drogas são ruins. Não, as drogas são boas. Ruins são os efeitos que elas causam. Procuro mostrar isso nas palestras”, explica.
Ele também é um divulgador das ultramaratonas. No sábado, 5 de janeiro, reuniu amigos em um evento na praça XV de Novembro. Foram 12 horas correndo.
“Neste treino recebi a visita de amigos corredores. No dia 18 participo na Grécia, em Atenas, do Mundial de 48 horas, onde estarão os melhores ultramaratonistas do mundo. Vou comemorar três anos limpo dentro do avião”, fala.
Para participar do Mundial, Arilson teve que fazer rifas, vender pizzas e pedir apoio. “Muita gente está me apoiando, sem esse apoio não teria como, não tenho condições de bancar”, ressalta.