Feres Sabino *
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Indisfarçável que o grande vitorioso desse período anormal da vida brasileira, quando o rebotalho ético passou do submundo do disfarce, para o palco desavergonhado das aparências reveladas, é o Presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira (PP-AL), que fez dos pedidos acumulados de impeachment do governo anterior, e das ameaças neste governo, a grande chantagem para que ele frequente a terra do ilícito e do imoral com arrogância disfarçada.
Quanto estava para ser regulamentada a legislação sobre a tecnologia da comunicação, Lira e seus sequazes evitaram que ela acontecesse, porque interessa a eles, fruto do submundo da política, o que é falso, o que é para confundir, o que é para esconder a verdade, o que é para envergonhar o Parlamento e o país, com a sua sucumbência de arroto. O servil Presidente da Câmara segue a cartilha do ofensor do Brasil. Seguramente, de tanto cuidar de interesses pessoais, perdeu o senso da dignidade nacional.
Foi logo que o festejado milionário do foguete fujão da terra falar contra o Presidente da República e o Supremo Tribunal Federal, que logo o servil Presidente da Câmara declarou que aquela legislação sobre a regulamentação da tecnologia da comunicação, estudada e debatida durante anos, deveria ir para o lixo, porque não seria aprovada. É a atitude do sabujo, que deveria responder dignamente, representando a dignidade nacional, ao invés de fazer vista grossa diante daquele submundinho agregado em Comissão para até votar moção de elogio ao milionário bajulado somada ao convite para vir falar nela. É raro se identificar uma sabujice de tal intoxicação do mandato parlamentar.
Não importa se a pessoa é de direita ou de esquerda, ela precisa ter um sentido de pátria, um sentido de nação, deve respeitar a soberania do país, não permitindo jamais que milionário algum de país estrangeiro procure denegrir nossas instituições. Essa é a primeira condição de quem jura, para assumir o mandato popular, cumprir e fazer cumprir a Constituição e as leis do país.
Seja de direito ou seja de esquerda, quanto aos rumos para alcançar a redenção do Brasil, jamais, porém servir de ventríloquo de quem não tem vínculo e amor à sua própria pátria. Um arrogante, que nada tem de diferente da arrogância que se conhece, sentada sob a montanha mágica do dinheiro, que solta a língua sem freio, e pretende balançar a governabilidade do país e a legitimidade das instituições, graças ao servilismo do rebotalho que ocupa funções parlamentares, enriquecidas pela montanha mágica das emendas parlamentares.
O rebotalho brasileiro para ser rebotalho tem que ser indigno, tem que ser submisso às lideranças políticas externas, tem que ser arrogante e servir aos milionários que pensam no dinheiro como construtor de um mundo sem freios, sem limite, sem lei, sem fronteiras, sem barreira seja da mentira veiculada, seja em razão da violência contra instituições nacionais e contra pessoas. E sem a soberania de países.
O rebotalho pessoal ou coletivo desconhece a envergadura vertical da honra e do orgulho nacional, ele pensa em armas, armas, mortes, mortes, e no esvaziamento do ser humano, como centro da dignidade.
O que mais se precisa numa luta política, assim como pelo dia-a-dia do vida é assumir uma ética, que respeite adversários, sem fazê-los inimigos, e seja capaz de conquistar, com os contrários, um programa comum que engrandeça seus atores, eleve o nível do debate político, e procure sempre engrandecer seu país.
Nosso parlamento já exibiu o que não se acredita como mediocridade revoltada consigo mesma, por não conseguir vencer pelos argumentos, pelas palavras e pela ínsita indecência trazida pelo seu DNA político. Mas agora alcança outra linha que a própria indecência desconhecia: curvar-se, batendo palmas ao xingamento estrangeiro, que deveria receber repulsa unanime em defesa da honra e do orgulho nacional.
Quanto menos se espera o vento muda de rumo e o rebotalho ou se joga ao mar, ou muda temporariamente de pele, sabendo que seu ressurgimento demorará séculos.
Ninguém perde por esperar.
* Procurador-geral do Estado no governo de André Franco Montoro e membro da Academia Ribeirãopretana de Letras