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Lima Duarte, Sócrates, o avô e o general

Imagine você naquela correria da lida diária quando seu telefone resolve dar sinais de vida. Foi o que aconteceu comigo numa certa manhã. Depois de um chá de sumiço, Sócrates resolveu me ligar. Fazia mais de uma semana que ele estava entre São Paulo e Rio de Janeiro, na companhia de vários artistas e produtores ajudando a promover o filme Boleiros II – Vencedores e vencidos, do qual participou.

Na ligação, ele parecia estar muito apressado e foi logo pedindo: “Buenão, largue tudo que estiver fazendo, passe a mão no seu violão e venha aqui para o RibeirãoShopping, vamos cantar para o Lima Duar­te nossas músicas, ele tá duvidando que fizemos dezenas de canções”. Tô indo”, disse a ele. No caminho, minha cabeça danava a pensar: “Pô, que honra! Cantar pro grande ator e meu ídolo Lima Duarte!”

Estava acontecendo uma coletiva para o lançamento do filme Boleiros II aqui em Ribeirão Preto. No filme, Lima interpretava um técnico de futebol estilo Felipão, e ainda tinha Otávio Augusto no papel de um juiz corrupto – e por aí vai… Toda a imprensa presente, outros artistas do filme também, muitos fãs e pra finalizar aquele manjado coquetel de sempre.

Depois a galera vazou e ficamos nós, Sócrates, Lima Duarte, o também ator Adriano Stuart, outros atores que não eu conhecia, produtores, diretores e de quebra veio do Rio de Janeiro o sambis­ta, cantor e compositor Carlinhos Vergueiro, que quando não está fazendo nada embarca em qualquer onda e seja o que Deus quiser – veio a convite do Doutor.

Magrão apresentou-me a Lima Duarte que foi logo falando: “Sol­te o gogó, Bueno, vamos ver se esse meu ídolo dos gramados é bom também pra versar”. Cantamos umas dez músicas de nossa autoria, galera, Lima gostou muito de “O Retrato do Velho” que fizemos para nossos pais.

Paramos a música e a resenha continuou. Lima disse: “Sócrates, o Adriano Stuart sempre foi magrelo como você. Certa vez, fomos fazer um filme e, à tardinha, sempre rolava uma pelada. Ele dizia ser você, imitava seu jeito de correr com a mão virada…” Daí foi só risa­da. “Mas tinha uma coisa, quando tentava bater na bola de calcanhar era um desastre”, revelou Lima Duarte. E Adriano confirmava tudo.

Lima, como um bom contador de causos, disse que foi ainda moço pra São Paulo de carona em um caminhão de mangas, que ajudou a descarregar no Mercadão. Decidiu ficar por lá, comeu o pão que o diabo amassou, mas que Deus guiou seus caminhos, co­locando anjos para acompanhá-lo e deu no que deu. Disse também – e ria muito enquanto contava essa história – que quando criança morava com os pais e avô paterno na nossa Vila Tibério. O avô não sabia ler e rolava a Segunda Guerra Mundial, o jornal chegava por aqui a cada 15 dias, era Lima quem lia as notícias para ele.

Nosso ator disse que o velho era um português daqueles bravos que só vendo, sentava na varanda em sua cadeira favorita, bigodão amarelado pela fumaça dos cigarros de palha, chapéu de feltro na cabeça, pernas abertas e apoiava as mãos em sua bengala, e elegeu como seu herói da guerra o general americano Montgomery, que estava vencendo todas as batalhas, até que perdeu uma.

Lima, inocentemente, leu a manchete do jornal: “General Mon­tgomery perde sua primeira batalha” Seu avô, nervoso, deu com sua bengala no neto e disse: “Mentira, o general não perde guerra nenhuma”. Lima vazou com alguns galos na cabeça e decidiu armar o contra-ataque. Daí pensou: “Meu avô não sabe ler mesmo, então vou ler sempre que o general vence senão apanho de novo”.

Quinze dias depois chega o novo jornal e o general perdeu mais uma. Lá foi Lima Duarte ler para o avô: “General Montgomery ven­ce outra batalha”. O velho ficou feliz, mas, o pai do ator, que na hora passava por trás, viu que Lima mentiu para o avô e deu-lhe uma sur­ra, dizendo: “Mentindo para seu avô, moleque? Não faça mais isso.”

Lima ficou cabreiro e danou a pensar: “Se leio mentiras, apanho. Se leio verdades, apanho… E agora?” Foram risadas gerais…

Sexta conto mais.

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