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Líderes e mitos

Em recente conversa sobre política com o professor Paulo Nathanael, procurei obter dele co­nhecimentos para se chegar ao consenso da diferença entre líder e mito. Ele nos lembrou da onda crescente de populismo que invadiu os países da América Latina, na transição do século XX para o XXI. Surgiram novos caudilhos na crista de eleições não raro manipuladas pela troca de favores entre candidatos e eleitores, nas quais, uns entram com dinheiro e benesses, e outros com votos, sonhos e boa fé.

De onde vem a força desses aventureiros? De uma liderança exercida com competência e luci­dez, ou da exploração teatral de um mito, que encarne a projeção dos anseios de massas humanas marginalizadas pela miséria e motivadas pelo ressentimento? Como classifica-los tendo em vista seus discursos e suas ações? Como heróis ou histriões; estadistas ou demagogos?

Ou terão um perfil ambíguo, no qual se misturam esses traços em doses variadas, onde ora o mito, ora o líder assume o comando do seu comportamento? Sociólogos, historiadores e cientistas podem responder. Mas afeito às coisas do interior, onde se sente na própria pele as con­sequências dos desmandos, arriscamos, com a orientação segura do professor Nathanael, analisar o que faz um líder e um mito, ficando a cargo de cada um de nós, reconhecermos esses caudi­lhos, os que foram ou serão enquadrados no processo eleitoral, no qual os sonhos, a boa-fé e a esperança falarão mais alto.

Por onde começa a diferenciação entre o líder e o mito? Certamente pelo papel exercido pela racionalidade, que sobra nas lideranças e fica devendo nas mitologias. Enquanto que o líder im­pulsiona historicamente o rumo seguido pelo grupo social que lidera, dando-lhes ordem social e sendo lógico, o mito encarna forças subliminares, que inspiram a imagética coletiva e rejeitam interferências de razões e lógica. Age no impulso das emoções extremadas e alienadas da realidade.

A liderança é magistério, a mitologia é sacerdócio. Naquele buscam-se juízos de realidade, nes­tas, juízos de valor. Politicamente o líder torna-se cruzado das liberdades, enquanto que o mito, introjetado pela idéia de uma missão divina, promete anular as desigualdades, sem indicar o ca­minho. O líder move-se, de preferência, pela inteligência, pela inovação, pelo planejamento e pela seriedade, e busca se colocar pelo raciocínio transparente e convincente.

O mito joga menos com as palavras e mais com as imagens, explora menos o racional e se vale o tempo todo dos aspectos negativos da realidade que quer mudar, apregoa ganhos utópicos sem preocupação com a viabilidade do prometido. Enquanto que o líder concilia e geralmente pratica uma ética de natureza cristã, segundo a qual os fins não justificam os meios.

O mito inverte essa equação filosófica para pregar exatamente o contrário. O mito é incapaz de con­ciliar. Prefere dividir, ao passo que a democracia sobrevive do talento das lideranças, que, no exercício do seu comando, convivem com a transparência e o discurso lógico. Finalmente, entendemos que o mito joga com as forças primitivas da natureza humana e se contrapõe ao racionalismo.

Já o líder exerce seu comando com respeito à liberdade, à racionalidade e eficácia. Em recente palestra na ADVB, o estudioso e profundo conhecedor da política brasileira, João Carlos Meirelles afirmou que a solução é transformar o Brasil em um grande celeiro de obras. Isso só se faz com liderança e com quem é capaz de unir o Brasil em um só objetivo. Reconstruir. Essa é definitiva­mente a nossa aspiração.

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