O futebol brasileiro está passando um momento importante, de transformação. Com a chegada das SAFs, cada vez mais se faz necessário maior profissionalização da modalidade. A discussão do momento é a formatação de uma liga nacional, independente da CBF.
Esse modelo já funciona em outros países há muitos anos. A Premier League, na Inglaterra, La Liga, na Espanha, Bundesliga, na Alemanha, Ligue 1, na França, entre outras. Essas competições não são geridas pelas confederações, mas sim por uma liga independente, que representa todos os clubes.
Em alguns países, a confederação fica responsável somente pela administração das seleções e organização de copas nacionais. No Brasil, o melhor exemplo seria a Copa do Brasil.
Atualmente no futebol brasileiro tudo é gerido pela CBF. Os campeonatos nacionais como o Brasileirão (A, B, C e D) são geridos pela confederação, que é responsável por negociar contratos de publicidade, patrocínios e distribuir esses valores entre os clubes.
A distribuição de valores é o ponto mais forte em discussão para que uma nova liga seja criada. Atualmente a discrepância de valores é muito grande. Os clubes de maior expressão faturam muitos milhões, enquanto os menores recebem quantias bem pequenas.
Como estão as tratativas
As negociações não estão sendo fáceis e já existem rupturas dentro do processo. Neste momento duas formatações de ligas estão em andamento. A Libra (Liga do Futebol Brasileiro) e a LFF (Liga Forte Futebol).
Fazem parte da Libra os seguintes clubes: Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Palmeiras, Ponte Preta, Red Bull Bragantino, Sampaio Corrêa, Santos, São Paulo, Vasco e Vitória. São 18 times no total.
Na LFF estão os seguintes clubes: ABC, Athletico, Atlético-MG, América-MG, Atlético-GO, Avaí, Chapecoense, Coritiba, Ceará, Criciúma, CRB, Cuiabá, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional, Juventude, Londrina, Sport, Vila Nova e Tombense. São 21 clubes. A LFF também tem conversas com clubes que estão na Série C, porém, essa divisão não está fazendo parte das negociações.
Como é possível ver, existe um racha entre os clubes. O motivo: dinheiro. Os times mais fortes defendem o interesse de continuar ganhando muito mais do que outros. Os menores, por sua vez, se juntaram e estão pleiteando direitos melhores.
A relação entre os clubes já foi mais distante. Porém, hoje, as tratativas acontecem. Ainda sem estarem próxima de um desfecho, mas existem.
Investimento estrangeiro
O futebol brasileiro é referência em todo planeta. Por isso, era natural que fundos estrangeiros tivessem intenção de investir nessas ligas. O que era evidente virou realidade e ambos os projetos contam com promessas de investimentos altos.
A LFF tem como investidor o fundo americano Serengeti Asset Management. A proposta gira na casa dos 900 milhões de dólares, aproximadamente 4,5 bilhões de reais. Dirigentes do Forte Futebol obtiveram recentemente a promessa de que receberão adiantamento de potenciais investidores da liga. O pagamento depende da assinatura dos documentos com o fundo americano Serengeti e a gestora curitibana Life Capital Partners (LCP).
Caso o negócio seja concretizado, a expectativa é executar os depósitos em até cinco dias. Clubes receberão valores entre R$ 4 milhões e R$ 44 milhões, a depender dos critérios estabelecidos pelo grupo.
A Libra também tem seu investidor estrangeiro. Após meses de trabalho junto a dezenas de investidores, a Liga do Futebol Brasileiro tem em mãos uma proposta para venda da exploração comercial da entidade que pretende organizar o Campeonato Brasileiro. A proposta foi trazida pelo banco BTG Pactual e pela Codajas Sports Kapital e o investidor escolhido é o Mubadala Capital.
O Mubadala Capital é um fundo de investimentos dos Emirados Árabes, cujo principal acionista é o governo do país. De acordo com o site do fundo, no Brasil há um investimento até o momento: o fundo comprou 65% de um porto privado na Ilha da Madeira, em Itaguaí, no Rio de Janeiro, capaz de lidar com 50 milhões de toneladas de ferro por ano. A decisão de avançar na negociação com esse investidor específico foi aprovada por unanimidade em Assembleia Geral da Libra. Os valores totais da proposta ainda não foram divulgados de forma oficial.
Onde o Botafogo está?
O Botafogo está numa posição completamente diferente dos outros clubes. O Pantera é o único dos 40 times participantes das Séries A e B que não está inserido em nenhuma das duas ligas.
Em entrevista recente ao UOL, Adalberto Baptista, mandatário da Botafogo S/A, empresa que administra o futebol do Pantera, afirmou que tem interesse na criação de uma liga brasileira, mas que ela precisa atender o senso comum.
“O Botafogo optou por não entrar em nenhum dos grupos que estão sendo articulados. Temos total interesse na criação de um novo campeonato nacional, um produto mais rentável para os clubes brasileiros. Por outro lado, prezamos pela unidade e o interesse comum. Para a Liga sair do papel, as 40 agremiações terão de se entender e fazerem com que o bem coletivo consiga superar os interesses e as vaidades individuais”, afirmou Baptista ao UOL.
Em meados de novembro do ano passado circularam informações de que o Botafogo tinham negociações próximas de um desfecho positivo com a Libra, mas isso nunca foi confirmado oficialmente.