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Liberté, Égalité, Fraternité

No dia 14 de julho de 1789, a população enfurecida de Paris invadiu a temível prisão da Bastilha, libertando os presos que ali se encontravam e deu início ao movimento que seria denominado Revolução Francesa. A forma de governo era a monarquia absoluta, onde o Rei, escolhido por Deus, era um pai para os habitantes, que não tinham capacidade de governar. O Rei tinha sempre a primeira e última palavra em tudo e estava acima da lei e do julga­mento de seus súditos, enfeixando em si os poderes de ad­ministração e justiça. Este sistema era vigente havia muito tempo nas monarquias europeias.

A Revolução Francesa acabou com este conceito de divindade real e lançou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, onde reconhece que todos os cidadãos são iguais e participam do governo do país através do voto. As ideias francesas contagiaram a Europa e começaram a ser pratica­das com irregularidade, sendo que o conceito da democra­cia só se instalou definitivamente naquele continente depois da II Guerra Mundial.

A Revolução Francesa de 1789 foi inspirada nos princípios da Revolução Americana de 1776, e ambas influenciaram muito os movimentos de emancipação do Brasil.

Quando os intelectuais das Minas Gerais, advogados, juízes, poetas lideraram a revolta contra a elevada explora­ção das riquezas da colônia pelo Rei de Portugal, surgiu a Inconfidência Mineira, movimento que visava à libertação da Província das Minas Gerais e a instituição de uma República. Foram secundados por Joaquim José da Silva Xavier, o Tira­dentes, que, se não tinha o gabarito intelectual dos revoltosos, conhecia como ninguém os caminhos e grotões da província e foi o único a pregar abertamente a conspiração. Os livros de cabeceira dos revoltosos eram a Declaração de Independência Americana, a Constituição do país e a Lei dos Direitos, além de escritos que as influenciaram.

No final do Segundo Império, ao surgirem os sinais de debi­lidade de D. Pedro II e a perspectiva de a carola Princesa Isabel assumir o Trono assustavam os brasileiros, começou a ganhar forma, ao lado da campanha pela libertação dos escravos, a de­fesa da República, ambas embasadas nas ideias da Revolução Francesa. A Marselhesa tornou-se o símbolo dos movimentos e a bandeira francesa era constantemente exibida.

Meu avô João Rodrigues Guião, que foi prefeito de nossa cidade, entusiasta de ambos os movimentos, tem passagem interessantes em sua vida, motivada pelos ideais franceses. No final de 1888, de férias na capital do Império, participava de reunião republicana quando a temida Guarda Negra, compos­ta de negros forros e defensores da Princesa Isabel, invadiu o recinto e começou uma pancadaria. No meio do tumulto, João Rodrigues Guião abre o piano de cauda do clube e começa a tocar a Marselhesa, incentivando todos à resistência. E conti­nua tocando até que a polícia chega e acaba com a balbúrdia.

Durante muito tempo, o 14 de julho foi solenemente comemorado em nossa cidade, inclusive de forma burlesca, quando o francês Cassoulet, dono do cabaré que levava seu nome, desfilava com suas profissionais pelas ruas da cidade, cantando a Marselhesa e desfraldando a bandeira francesa.

Neste momento difícil para nosso país, abalado por corrup­ção, divisões, extremismos, escandalosa concentração de renda e desigualdade social, estamos precisando do nosso 14 de ju­lho, de forma pacífica, que nos conduza para um caminho mais justo e equânime e permita aos brasileiro uma vida melhor.

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