Tribuna Ribeirão
Artigos

Liberdade não combina com necessidade 

José Eugenio Kaça *  
[email protected] 
 
As palavras, amor e liberdade são fundamentais para que haja uma convivência harmoniosa entre os seres humanos, mas a importância destas palavras para uma convivência humana e harmoniosa se perderam – foram engolidas pelo ódio em pleno século 21, um ódio religioso e fundamentalista. Nos anos 1980,estas duas palavras foram protagonistas de propagandas de calça jeans e papel higiênico. A propaganda de uma marca de calça jeans exalta a liberdade: “Liberdade é uma calça velha azul e desbotada, que você pode usar do jeito que quiser, não usa quem não quer…”. Já o amor foi exaltado em uma marca de papel higiênico, falando de sua maciez: “falava que o papel higiênico proporcionava uma imensa satisfação ao consumidor nos seus quarenta metros de amor. Os dois jingles, por muito tempo ficaram nas lembranças da população, como símbolos de amor e liberdade. 
 
Mas como a liberdade é materializada no cotidiano? Os dicionários definem liberdade como: “o poder que tem o cidadão de exercer a sua vontade dentro dos limites que lhe faculta a lei”. No entanto, a liberdade é algo intrínseco, que habita o ser humano, e depende do tempo e do espaço. Acontece que as leis derivam do poder, e o poder sempre está do lado dos poderosos, e o fiel da balança nunca está equilibrado. E neste contexto a única liberdade que o ser humano pode exercer com liberdade é a liberdade do pensamento, que não têm fronteiras, não encontra obstáculos – viaja pelo espaço materializando os sonhos. 
 
A palavra amor nos remete a algo sublime, que faz o ser humano chegar mais perto do conceito de divindade. Entretanto o amor é atropelado pelas atitudes humanas, que sempre privilegiam o ódio, deixando de lado a solidariedade e o cuidado com o outro, e assim o amor flutua em outra dimensão, e a maioria dos seres humanos não consegue atingi-la, pois vivem no circuito do ódio, e com isso a energia de luz que o amor irradia fica minimizada. 
 
A palavra liberdade em um País com a mácula de quase quatrocentos anos da escravização dos povos africanos perde seu significado. O conceito de liberdade retrocedeu, e a Declaração Universal dos Direitos Humanos perdeu sua eficácia. Aos poucos o fundamentalismo religioso está dominando tudo. A liberdade individual no Brasil tem a cara escarrada da segregação, do preconceito e do racismo, desrespeitando o que diz nossa Carta Magna. O renascimento do extremismo de direita golpista, já foi protagonista na primeira metade do século 20, e sua volta abocanhou os símbolos nacionais estabelecendo o radicalismo e o fascismo. 
 
O preconceito da extrema direta golpista, tem dois alvos definidos, os pobres e as mulheres. o Congresso Nacional foi invadido por extremistas golpistas que querem levar o Brasil para o século 19, principalmente a Câmara dos deputados. Foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania da Câmara dos deputados, sob a presidência de uma mulher, a admissibilidade de uma proposta de emenda à Constituição, que garante o direito à vida desde a concepção, e com isso o aborto é permitido no Brasil desde 1940 em três condições: quando a mulher é vitima de estrupo, quando há risco de morte para a mulher e no caso de anencefalia. Este absurdo jurídico vai colocar as mulheres no banco dos réus, pois derruba as três formas de abortos prevista em lei, e todos os métodos contraceptivos usados pelas mulheres.   
 
Essa gente hipócrita, golpista e criminosa odeia as mulheres, e fazem de tudo para expressar este ódio. Estes seres desprezíveis, sem qualidade ética e moral, vivem vomitando a liberdade de expressão para cometer crimes nas redes sociais, mas querem tolher a liberdade das mulheres, de decidir sobre as suas vidas. É imprescindível tomar novamente as ruas para barrar a intenção criminosa destes parlamentares, pois só a força da população organizada poderá intimidar estes fascistas. Afinal: estuprador não é pai, e criança não é mãe! Liberdade é uma condição humana, e amor é nos remete ao sublime. 
 
* Pedagogo, líder comunitário e ex-conselheiro da Educação 
 
  

Postagens relacionadas

Dresden

Redação 1

Fraternidade, fome e moradores de rua

William Teodoro

Genocídio Yanomami: a face mais cruel do bolsonarismo

William Teodoro

Utilizamos cookies para melhorar a sua experiência no site. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade. Aceitar Política de Privacidade

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com