Edwaldo Arantes *
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Após abrir meu tinto seco português em um momento de total descanso, tecendo horas inúteis e passadas em vão, pus-me a buscar reminiscências de um tempo bom.
Minha terra era despojada de clubes esportivos, exercícios praticados apenas nas aulas de educação física no “Gymnsium Paraisense” ou aventuras e experiências pelas ruas, brejos e matas.
No entorno da cidadezinha havia uma elevação, formando um monte, no seu cume uma superfície elevada, um “platô”.
Nas nossas peripécias e aventuras explorando o local, a escalada usando apenas pernas e mãos, na imaginação infantil era o nosso “Everest”, na realidade o “Morro do Baú”.
Nosso alpinismo delirante nos levava ao Himalaia, Aconcágua, Kilimanjaro, Bandeira, Neblina, conhecidos apenas pelas aulas de geografia, no Grupo Escolar “Campos do Amaral” e os compêndios da enciclopédia, “Barsa”.
Outro empreendimento pueril, destino ao “Posto do Curuta”, no intuito de uma carona pela estrada que rumava para Belo Horizonte, descendo frente uma porteira e a estradinha destinada a uma propriedade amena e campestre, pertencente ao médico, Dr. Urias Soares de Moraes.
Um local fascinante, a piscina com suas águas brotando direto do seu solo de pedras, os mergulhos vasculhando o fundo, vendo surgir a água pura e cristalina, entre as mãos.
A volta era sempre contemplada com algum visitante ou com o dedo polegar, acenando e implorando pela carona.
A cidade só contava com duas piscinas, uma destinada às crianças e àqueles desprovidos do encanto da natação e a outra, olímpica, dedicada aos mais velhos e nadadores.
Perto de casa, um local bucólico, formado por lagos, atual “Parque da Lagoinha”.
A menor, acanhada, era tratada como o “Patinho Feio” e “Ovelha Negra” da família, atualmente, sede do Executivo Municipal.
A maior, cortejada como a filha dotada de formosura, encanto e graça, preferida da família em piqueniques e passeios de barco.
Minha mãe adorava uma planta conhecida popularmente como “Taboa”, usada para enfeitar residências, com destaque, o nosso lar, acolhidas em vasos grandes.
Uma espécie aquática comum em pântanos e margens das lagoas, perene e exótica, que pode crescer até dois metros de altura.
Íamos os três, o caçula, Noel, ainda novinho, cumprindo as tarefas de colher a beldade floral, tão amada pela mamãe, munidos de facão para cortá-las e uma peneira em busca dos lambaris para um suculento jantar.
A pescaria trazia os peixinhos, colocados em uma enorme lata de óleo “Saboroso”, nadando na água barrenta.
Os peixes depositados em um tacho de cobre fervendo, servidos crocantes e dourados, com arroz branco e mandioca, uma garrafa de Grapette, religiosamente dividida em quatro copos.
Minha vida foi regada de alegrias e emoções vividas na infância.
Suas descobertas, amizades, conhecimentos e todo o período das transições da existência, a vivência com seus enigmas, incógnitas e os mistérios de todas as etapas, até a velhice.
O vinho se esvai, a taça vazia leva ao torpor, entregue aos devaneios, em minutos, adormeço.
Um cochilo com imagens surgidas na tela imaginária dos sonhos, morros, riachos, lagoas, bancos escolares, formaturas, missas, casamentos, velórios, mudanças, praças e imagens misturadas, desconectadas, desconexas e complexas.
Assisto pessoas e lugares, alguns familiares, outros totalmente desconhecidos.
Em um sobressalto acordo atônito e assustado, embora minhas lembranças satisfaçam e um conforto apazigua e acalma, trazendo a melancolia da saudade.
Dedico a um querido e dileto amigo, Dr. Brasil Salomão, orientando e indicando os caminhos com seus sábios conselhos.
“Não quero adultos nem chatos. Quero-os, metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa”. “Oscar Wilde”.
* Agente cultural