Entende-se por “oitocentista” elementos relativos ao século XIX, assim como, pessoas que viveram nesse período, ou que apreciam obras artísticas e literárias do mesmo, ou que conhecem a cultura dessa época. Discutindo aspectos da literatura oitocentista e seus eventuais reflexos na literatura moderna, a obra “Leituras Oitocentistas” (EdUFSCar, 2019) busca evidenciar que a revisitação do passado é um exercício crítico que ajuda a compreender os desdobramentos literários até o presente. Dividida em três unidades temáticas, a saber, (1) Leituras Românticas, (2) Leituras Machadianas e (3) Leituras de final de século e um diálogo contemporâneo, traz estudos das manifestações literárias brasileiras do século XIX e do diálogo destas com obras estrangeiras do mesmo período.
Na primeira unidade, descortina-se o estranhamento que Gonçalves de Magalhães, educado pela leitura de clássicos, e considerado introdutor do Romantismo no Brasil, sentiu ao chegar a Paris, em outubro de 1833, e se deparar com poetas “fatigados com as ideias antigas”, bem como, a posição do crítico Antonio Candido sobre o fato, tido como “providencial”, por permitir a Magalhães não só “descobrir in loco a literatura francesa… e perceber o quanto serviriam à definição de uma literatura nova no Brasil”. Trata-se, também, de um ensaio do poeta brasileiro Álvares de Azevedo que, a despeito de ser mais conhecido por suas poesias e discussões filosóficas, também escreveu ensaios, dentre os quais, um, sobre a autora francesa George Sand, no qual, ao comentar um texto dramático por ela escrito em 1833, descortina o emprego de um método comparativo embrionário que permitiu a Azevedo pontuar o cosmopolitismo de Sand.
Na segunda, Machado de Assis tem traçada sua trajetória da poesia à crítica literária, bem como, discutido o lugar das epígrafes em sua poesia e revisitada a temática indianista, além de aproximados, tematicamente, dois de seus contos, como se um fosse a reescrita do outro, e evidenciada uma visão divergente à concepção de nacionalidade literária. “Para ele, a nacionalidade literária não se constituía por uma mudança temática, mas tão somente por um processo de rearticulação estética, capaz de elevar a qualidade do texto e ao mesmo tempo, de dar forma às características sintetizadoras da brasilidade em uma configuração mais verossímil de país”.
Na terceira, Aluísio de Azevedo tem seu “O Cortiço” (1890) discutido enquanto reflexão literária sobre a formação social brasileira. Raul Pompeia tem focalizadas suas identidades ficcionais em três obras literárias, a saber, no romance “Tentação”, de Adolfo Caminha, no século XIX; na novela “O Canudo”, de Afonso Schmidt, na metade do século XX; e no romance “Investigação sobre Ariel”, de Silvio Fiorani, de 2000. Murilo Mendes tem sua “História do Brasil” relida, destacando-se sua maneira peculiar, e autêntica, de resgatar, e reinterpretar, fatos à luz de episódios pessoalmente escolhidos da vasta documentação historiográfica brasileira.
Obra séria, ricamente argumentada e justificada a partir de sólidos pilares bibliográficos. Seus articulistas? Pesquisadores especializados no estudo da literatura brasileira do referido período, além de docentes em diferentes instituições de ensino do país. Seus organizadores? Professor Wilton Marques, coordenador do Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos Oitocentistas (NEO) da UFSCar, fundado em 2004; Professor Franco Baptista Sandanello, docente do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura (PPGLit), também da UFSCar.