Tribuna Ribeirão
Geral

Larga Brasa

Gongórico, o erudito
Em nossa cidade havia um professor que era muito erudito. Brilhava quando discursava e puxava pela memória as compo­sições literárias do tempo do Gongorismo, um estilo de poesia da Espanha (pertencente ao poeta espanhol Luis de Góngora y Argote /1561-1627). No dizer dos alunos ele “enfeitava o pavão” oferecendo-lhes cores e matizes que muitas vezes não possuía com tal vitalidade. Em todas as solenidades lá estava o profes­sor muito respeitado que sempre ficava vermelho no momento de suas citações e do corolário da exposição. Era um mestre do velho estilo, mas competente em suas aulas fazendo com que seus pupilos entendessem a formatação de um texto com ferra­mentas de estilos diferentes a despeito do tempo em que foram respeitados e tiveram apogeu em saraus e recitais.

Adoravam o vermelho do mestre, “o Peru”
Os alunos combinavam de estar nos mesmos locais em que o re­verenciado professor estivesse para aplaudí-lo, para lhe oferecer oportunidade de ficar mais vermelho ainda. Ele fazia discursos escritos laudatórios que enrolava em tubinhos que eram ofere­cidos aos circundantes em pílulas do português castiço. Onde o “Peru” estivesse lá estavam seus alunos observando a sua verve e o sangue subindo nas bochechas como que enfatizando o sig­nificado de cada exortação.

Adhemar de Barros
Quando as autoridades da época visitavam a cidade era uma honra recebê-las e todos se colocavam em roupas de festas, as domingueiras, para saber das novidades das capitais São Paulo ou Rio de Janeiro, onde se fixava a capital federal. O Governa­dor Adhemar de Barros marcou importante ato político e admi­nistrativo para Ribeirão Preto. As autoridades civis, militares e eclesiásticas foram as primeiras a serem convidadas. O local da manifestação de Adhemar de Barros foi o palco do Theatro Pedro II. Teatro lotado. Cada um tentando aparecer para registrar pre­sença junto às cabeças aureoladas na esperança de um dia ter um benefício da alta autoridade.

Discursos cansativos
Os discursos dos mais variados representantes de setores da população eram cansativos. Todos enumerando os qualificativos das presentes autoridades. Depois de horas de penitência eis que é anunciada a palavra do professor “Peru”. Como de praxe ele se levanta sopesando cada gesto e colocando nos holofotes o ca­lhamaço que havia escrito para o governador. Ele começou a enu­merar as autoridades presentes, citando suas qualificações e dei­xando a todos temerosos de que sua ameaça de ler o calhamaço se consumasse. Eis que o governador, que era um pândego, se levanta e chama o professor “Peru’ em alto e bom som: -“ Ô Peru. Dê-me este calhamaço que eu vou ler em casa na hora de dormir”. Aplausos gerais. O vermelho do velho professor tornou-se roxo. Mas não se deu por vencido. Entregou ao governador, com toda a pompa que o ato deveria se reverter e foi se sentar na Mesa Diretora dos Trabalhos. Ninguém nunca soube se Adhemar leu o não o verda­deiro “Tratado” do velho mestre, mas a situação constrangedora foi contornada e todos riram de forma a preservar as virtudes do professor respeitado pelos seus alunos e pela comunidade.

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