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História do sabonete
Há muitos anos, que os tempos não trazem mais, havia um supermercado na praça central de Ribeirão Preto que crescia muito mais que os armazéns que ficavam fora do contexto da modernidade consumista. Os marqueteiros conseguiam jun­to com as empresas representadas pelo novo comércio pa­trocínio para sorteios de peças valiosas para atrair a dona de casa e o chefe de família. Era tudo novo, atraente. Gôndolas reluzentes e atrativas como devem ser os ditames do novo marketing que possui uma série de determinações de atração para a freguesia, além dos sacos de batatas, de arroz e feijão dispersos em um salão sem atração a não ser o sorriso do dono e a amizade das famílias. Certa feita um carro que era o sonho de consumo de duas a cada duas famílias, um Aero Willys azul e branco iria ser sorteado. A notícia correu pela ci­dade toda. Dos ônibus onde a “rádio peão” transmitia as notí­cias e bochichos até aos tanques coletivos, onde as lavadeiras de roupas das madames trocavam “figurinhas” diariamente. Foi um alvoroço.

Novelas – Do Direito de Nascer a outras
A TV Tupi anunciava nas novelas patrocinadas por um sabonete que dizia valer o que pesava o sorteio. Uma chave iria aparecer no sabonete e ao ser colocada na ignição do veículo sorteado iria dar partida no mesmo. Em uma empresa grande e de projeção na cidade os funcionários ficaram animados, ter um carro naque­la época não era para qualquer um. Um cidadão que morava na fábrica resolveu brincar com os colegas. Aqueceu uma faca com cuidado e abriu espaço para uma chave de um Aero Willys que havia encontrado na rua. Era novinha e ele ainda a po­liu para dar veracidade a “pegadinha”. Colocou referida chave na fenda aberta pela faca aquecida e fechou com engenho e arte referido objeto de higiene. Sempre havia um colega que se aproveitava do sabonete do empregado que vivia em um quartinho para um banho surrupiado. Este achou a chave. Fi­cou quietinho, na época se dizia se manteve “em copas” e foi para casa. No dia seguinte procurou os programas de rádios julgando que havia ganho o carro e foi entrevistado por todas emissoras. Afirmava que havia encontrado a chave no sabo­nete que dizia valor o que pesava no seu banho em sua casa.

Alerta
O próprio gozador, autor da pegadinha, tentou alertá-lo dizen­do: -“Não é uma brincadeira. Alguém não está tentando brin­car com você?” Ele afirmava que não e que o sabonete era seu e pronto. Foi até ao supermercado e ficou sabendo que para fazer o teste da ignição deveria ir para São Paulo. O próprio gerente fez uma oferta na chave a qual foi prontamente re­cusada. O empregado pediu adiantamento para o setor de re­cursos humanos da firma e foi embora. Chegou em São Paulo também chamou os jornais da época que se você espremesse saia sangue e juntos foram ao anunciante. Negativo. A chave não ligou a ignição. Publicações denegrindo a imagem da fá­brica do sabonete, etc. Até a TV Tupi colocou em seus horários nobres anúncios dizendo que a chave era numerada e lacrada por empresa de auditoria e que aquela não era a sorteada. O “sorteado” continuava afirmando que havia sido sorteado e que fora enganado e de nada valeram os alertas de quem fez a brincadeira. Sobrou depois os descontos do adiantamento solicitado e as gozações dos colegas que sabiam da “pegadi­nha”. Ele nunca mais foi o mesmo.

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