Tribuna Ribeirão
Geral

Larga Brasa

Dr. Nicolau Roskoff – O jurista
Em nossa cidade havia um advogado alto, forte, rosto pleno, um vozeirão tonitruante que empolgava os tribunais em opor­tunidades de julgamentos com plateia e repercussão. Era o “rei” das réplicas e tréplicas que empolgava a todos, principal­mente aos estudantes de Direito. Atraia os jovens estudantes da região. Seus feitos eram comentados pelos bairros, bote­cos e pontos de ônibus. A clientela aumentava dia a dia. Sua palavra era empolgada e sua voz jactava os seus argumentos para além do apertado Salão do Júri. Os jurados convocados tinham receio de serem interrogados por aquele “monstro”. Ele podia detonar aquele que não estivesse concorde com sua linha de argumentação. Sempre ganhava os embates com os promotores e tinha a sua linha de raciocínio aceita com frequ­ência pelos magistrados. Era um show. Um espetáculo seme­lhante aos apresentados pelos filmes de grandes julgamentos. Começava na escolha dos que deveriam julgar o réu. Vetava alguns que se julgavam importantes para repercutir junto aos presentes da coragem de dizer não a alguns considerados “acima de qualquer suspeita”.

Grande jurista russo
Em um julgamento de um caso momentoso ele começou a determinar sua linha de defesa do preso com conceitos de um jurista que afirmava ser russo de nome Nicolau Roskoff. Arquitetava seus argumentos e citava o “grande jurista” em sua defesa de um famoso caso na Transilvânia e em seguida desenrolava o caso (fictício) que ele enfeitava “o pavão” e to­dos acompanhavam com olhares fixos em cada gesto seu. Até o promotor publico o acompanhava, em gestual, suas palavras e o argumento que ele costurava.

Julgamento – Livrou o acuado
Por unanimidade ele conseguiu (como sempre) livrar seu cliente. Aplausos, sorrisos e depois do alvará de soltura acu­sado queria sair dali imediatamente e assim o fez. O promotor, rapaz novo, recém-aprovado em concurso fitava o advogado experiente, matreiro, em cada movimento e, de mansinho foi se aproximando. Cheio de dedos ele se acercou de vários es­tudantes de direito que estavam ouvindo a tonitruante voz do vitorioso e perguntou com palavras quase inaudíveis: “Dou­tor, se posso lhe perguntar, qual o jurista que o senhor citou brilhantemente e que foi a base da sua sustentação junto ao Tribunal do Júri?” O Advogado, sem cerimônia, lhe disse: -“O senhor quer saber sobre o Nicolau Roskoff, o jurista russo?”. Em seguida, puxou um cidadão de cavanhaque branco para perto de si e emendou: “Nicolau Roskoff que eu citei é este amigo aqui, meu relojoeiro que o vi na plateia e resolvi home­nagea-lo”. E o apresentou ao incrédulo promotor público que estava até pedindo o endereço onde poderia comprar o livro do “Grande Jurista”.

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