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Larga Brasa

O pecado mora ao lado
Em mil novecentos e bolinha muitos aventureiros buscaram abrigo na promessa de muito dinheiro por conta do “boom” do café e de outras culturas. Não era só o Cassino Antarctica do famoso Cassoulet que tinha cartaz entre os “machões” da época. Outros com frequência de menor poder aquisitivo tam­bém se multiplicavam pelos bairros nas franjas mais distantes da cidade. Além dos oficiais, havia também o chamado “ama­dorismo marron” onde as atletas não eram registradas, mas faziam das suas com faturamento “black” ou “caixa dois”.

De Curitiba para Rebs
Um grupo de elegantes moças descendentes da cepa europeia dos migrantes, vistosas e bem vestidas veio para estas plagas em busca de alegria, faturamento e até de algum “fazendeirão” que lhes garantisse o futuro. Montaram uma casa nos Campos Elíseos, ao lado de um banco com raízes fincadas em Ribeirão Preto. A chefe era experiente e procurava estar em contanto com as grandes fortunas de gente ligada à produção agrícola. Fez amizade com o dono do banco, que era sisudo, sério e não se aventurava em questões particulares a não ser quando o as­sunto era dinheiro. Colocou as economias de todas as “moças” em uma conta e começou a colocar em pratica o seu plano. Vi­sitava os escritórios dos “endinheirados” e os convidava para uma reunião festiva em sua casa, devidamente preparada para tais “happy hour”. Ela ainda explicava: “vocês deverão apenas levar a bebida a carne pode deixar que eu coloco”. Meio teme­rosos pela primeira vez com referido convite incisivo e chama­tivo eles começavam a chegar meio com “pé atrás” e depois da segunda dose se despiam das cautelas, principalmente depois das massagens das moçoilas que diziam ser para “relaxar”. Aí o pessoal rígido dos escritórios empedernidos deitava e rolava.

Outras festas
Outras festas eram marcadas nas agendas semanalmente, sempre com a recomendação da dona do local que era apenas para levarem o whisky, pois a “carne” ela colocava. E assim foi por dois meses seguidos. Em determinada época, quando o lo­cal estava repleto de participantes de ambos os sexos ela se achegava a cada um dos convivas e dizia que havia necessidade de ampliar o local e colocar madeira para que a privacidade não fosse quebrada por olhares indiscretos dos vizinhos. Ela enfa­tizava que não queria o dinheiro deles, mas apenas o aval de empréstimo que iria pegar no famoso banco, o qual pagaria em noventa dias. Nenhum deles se negou a colocar sua assinatura nas promissórias altas do referido estabelecimento bancário. E as festas rolavam com assiduidade semanal, mas com troca de material feminino para satisfação da rapaziada madura.

90 dias
Depois dos noventa dias as festas não foram mais realiza­das, a “comandante” da casa da luz vermelha “anoiteceu e não amanheceu” como se dizia na época. Sumiu. O gerente e dono do banco começou (cheio de dedos) a telefonar para os avalistas, endinheirados com polpudas contas em seu esta­belecimento. Os antigos participes das festas de “Baco” eram pegos de surpresa, mesmo com o jeito diplomático da cobran­ça: “Doutor, aquela promissória que o senhor avalizou esta a descoberta. Procuramos a responsável pelo empréstimo e não a encontramos. Achamos melhor falar pessoalmente ao invés de enviar uma cobrança em sua residência”. Rapidinho eles compareciam e determinava o pagamento sem qualquer con­testação. A vivaldina levou muito dinheiro e ninguém sabia de seu paradeiro e nem de suas “colegas de trabalho”.

Fazendo marmitas
Passados os anos e o repórter a encontrou perto da Prefeitura e perguntou se ela não era a dona do lupanar em que os grandes figurantes da sociedade participavam. Ela afirmou que era ela e que ela arquitetou o golpe, pois precisava formar um filho em medicina e não tinha dinheiro. Formei-o. “Tirei de quem tinha” e encerrou o papo. Nada mais disse e nem lhe foi perguntado.

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