Amor de mãe remove montanhas
Na Ribeirão Preto de outrora, o Rádio era o catalisador das aspirações populares e em alguns casos a “ultima instância”. Quando desaparecia um cachorrinho, furtava um carro, bicicleta, moto e até às vezes que desaparecia uma pessoa, era ao rádio que a população solicitava as providências. Desde aquele tempo havia uma premissa segundo a qual, somente se procura desaparecido depois de 24 horas. Neste meio tempo tudo pode ter acontecido. Um “guardinha mirim” que residia na rua Visconde do Rio Branco, Centro, foi trabalhar e não retornou na hora de costume. Era um menino exemplar que lutava junto com uma provedora mãe para sustentar o seu lar.
Turbilhão
A mãe do menino de 11 anos ficou desesperada. Percorreu o caminho que ele fazia todo dia, procurou-o nas casas dos amiguinhos da escola, foi até a uma esquina em que havia uma área de terra onde a meninada jogava biroca e até chegou a ir à polícia, onde recebeu palavras consoladoras “de que” ele deveria estar em alguma brincadeira de rua, pique-esconde, salva, etc”. Ela voltou para casa amargurada.
Périplo
Percorreu as ruas Duque de Caxias, Mariana Junqueira e mesmo a Visconde do Rio Branco de cima abaixo e vice versa. Nada. Ninguém havia visto o filho daquela mãe amargurada. Varou a noite levando fotos nos ônibus que saíam da rodoviária, na esquina da Alagoas com a Antonio Grelet, onde estão os bombeiros atualmente. Mostrava para todos a foto do seu querido menininho loirinho e a cada vez que segurava a foto já desbotada ela tremia mais e deixava o desespero tomar conta daquela mulher.
Na polícia
Dia seguinte, esperou impaciente transcorrerem as 24 horas oficiais (e não o é), chegou à Delegacia Central, perto de onde morava, duas ruas abaixo e procurou os policiais para o registro das ocorrência. Foi feito um frio boletim de ocorrência sem relatar o desespero daquela mulher que até trabalhava como braçal quando necessitava. Nada. Nenhuma notícia e poucos esforços. Enquanto isso, na Rádio 79, no programa “Larga Brasa”, procurávamos divulgar ao máximo a descrição do menino, impecável na escola e no trabalho e que nunca havia dado motivos para qualquer queixa da sua sofrida mãe.
Anos de solidão e sofrimento
Foram anos de solidão daquela mulher que procurava o filho guardinha, com seu sofrimento incontido, sempre amparada por vizinhos que sentiam sua dor. Nunca deixamos de irradiar aquele apelo. E nunca se teve qualquer notícia, mesmo que fosse alguma informação com possibilidade de se estabelecer ligação com o caso. Seis anos se passaram. Quando o garoto iria fazer 17 anos, eis que uma notícia vinda de Aparecida do Norte trouxe esperança.
Emissoras de rádio
Um locutor da Rádio Aparecida havia passado por Ribeirão Preto e ficou sabendo do caso, comentado em cada esquina, do desaparecimento de um guardinha de 11 anos, etc. Eis que um jovem com aquelas características apareceu nos estúdios da emissora em que ele trabalhava e ele fez a ligação com o caso divulgado pela co-irmã 79. Ligou para este repórter e passou as características. Conversamos com o rapaz que poderia ser o desaparecido e não tivemos dúvidas, era ele. Ainda com temor de que pudéssemos fazer aquela mãe sofrer decepções, providenciamos o transporte dele para Ribeirão Preto. Era realmente o guardinha, que estava moço e que chegou por conta dos mistérios dos céus até a Rádio Aparecida.
A história
O rapaz, já abraçado a sua mãe, contou que estava retornando para sua casa quando um morador de rua apontou uma faca para ele e o ameaçou e determinou que ele o acompanhasse em suas andanças pelo Brasil afora. Ele, atemorizado, já que o andarilho dizia que mataria sua mãe caso ele fugisse, o acompanhou e era obrigado a pedir esmolas para o bandido. Quando o guardinha se certificou da impossibilidade de que sua mãe não corria perigo, procurou a Rádio Aparecida, onde contou sua historia. Foi um encontro muito feliz. A mãe não acreditava que ele estivesse vivo, embora nunca tivesse duvidado que ainda o encontraria. Viveram felizes para sempre. Do mendigo não se tem notícia.