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No tempo das ‘jardineiras’
Em épocas mais distantes para o deslocamento da população das cidades não servidas pela estrada de ferro, havia as ‘jardi­neiras’. Eram ônibus fortes, estruturados para transpor estradas esburacadas, pontes pela metade, poeira e até correr de vacas nos pastos por onde as estradas zigue-zagueavam. Demorava, mas chegava, mesmo que os passageiros tivessem a necessi­dade de trocar pneus, empurrar o coletivo e até viajar na capota. Cada jardineira possuía um auxiliar do motorista que era “pau para toda obra”. Cortava fios de cerca de arame farpado para remendar motores mal ajambrados, etc. Além de proceder a co­brança dos trocadinhos que eram levados nos saquinhos de sal vazios, as carteiras dos outros tempos.

Era uma festa
A saída e a chegada dos velhos ônibus apelidados de “jardi­neiras” era uma festa. Ninguém se atrevia sentar-se ao lado do motorista, pois o motor esquentava e os traseiros tam­bém ficavam a ponto de assar pães. No teto se levava tudo: sacos de feijão, arroz, mandioca, queijo e até latões de leite. Mas também levava caixões de defunto para velórios e fére­tros especiais. Não se podia perder nada, nenhum passageiro. Quando o ônibus lotava, na parte superior ficavam os “over­booking”, os extras.

Chuva
Certa feita o ônibus lotado saiu da rodoviária central a cami­nho de uma pequena cidade do triangulo mineiro. Alguns se sentaram na capota do “busão”. E a chuva começou a cair mais forte. Dois passageiros que estavam na parte externa aproveitaram se de dois caixões que estavam levados para Araguari como guarda chuvas. Cada um entrou no caixão e se aboletou sem se molhar. E a jardineira continuou a pegar pas­sageiros na capota. Em dado momento, perto do Rio Grande, parou a chuva. Os que haviam entrado nos caixões resolveram abrir as tampas para ver como estava o tempo e perguntaram aos outros que estavam viajando sobre o coletivo. “Parou de chover?”, foi a pergunta. Dois dos três outros que estavam no alto do ônibus pularam estrada abaixo, gritando que haviam visto dois fantasmas. O motorista brecou o veiculo e todos saíram para socorrer os feridos e constatar o que havia ocor­rido. Encontraram os dois passageiros sequinhos e os outros dois com pés e mãos feridos. Poucos depois se aventuraram a viajar no teto das “jardineiras”. O caso foi transmitido de boca a boca e quem conta um conto aumento um ponto. Daí as coi­sas passaram para o incrível, fantástico, extraordinário.

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