Tribuna Ribeirão
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Larga Brasa

Um humilde e verdadeiro herói
Há muitos anos a Mogiana transitava com suas composições férreas para vários pontos cardeais da cidade. As locomoti­vas e vagões com passageiros cargas saiam do local onde as locomotivas eram reparadas, nos galpões da companhia férrea, próximo da Vila Tibério e Vila Virginia [onde hoje está construído o Terminal Rodoviário]. Nas mais diferentes pas­sagens de nível, nas porteiras, funcionários tomavam conta do trânsito dos veículos nas ruas e dos pedestres que tinha que atravessar a linha férrea para chegarem às suas casas. Na rua Guatapará havia uma situação diferente, pois um córrego acompanhava a ferrovia e havia uma ponte com muitos gran­des pregos para impedir que os pedestres ousassem atraves­sar. Para tanto, os guardas ficavam atentos para que algum acidente não acontecesse.

Caminhões de transportes de rurícolas
Os caminhões que chegavam da fazenda, os denominados de “paus de arara’ estacionavam na rua Guatapará, perto do campo do Comercial e deixavam os cansados trabalhadores rurais para que seguissem rumo às suas casas. Em várias oportunidades os guardas precisavam ser enérgicos para que os rurícolas não atravessassem a ponte perigosa. Em um final de jornada de homens e mulheres na lavoura para o corte de cana um caminhão deixou que seus trabalhadores descessem perto da porteira da Mogiana. Alguns seguiram rumo a famosa ponte e outros atravessaram a passagem em nível da ferrovia. Neste exato momento o guarda cancela observou uma com­posição chegando rapidamente ao local e constatou que duas senhoras estavam com suas sandálias presas nos pregos da ponte e não conseguiam retirar seus pés dos desvãos.

Ato heroico
O humilde servidor da Mogiana correu para onde as duas tra­balhadoras estavam presas. E o trem chegava célere e api­tava. O maquinista havia puxado todos os freios possíveis e os imaginários também, sem conseguir frear a composição. O guarda porteira chegou na hora “H” e com esforço jogou uma das mulheres para dentro do riacho, arriscando a própria vida. Em gesto desesperador, empurrou a outra para fora do limpa trilho, deixando o seu corpo como salvaguarda para o corpo da trabalhadora O baque foi surdo e todos assistiram ao gesto heroico de um pobre e humilde trabalhador da Mogiana. Morreu pouco depois em um hospital, onde sua esposa e fi­lhos foram na esperança de ainda vê-lo com vida. As mulheres foram salvas sem qualquer ferimento.

Homenagem
Os colegas maquinistas, foguistas e todos os demais ficaram chocados com o acontecido, pois o cidadão trabalhador que labutava para sustentar sua família havia perdido sua vida para salvar duas outras de pobres trabalhadoras rurais. Seu nome foi lembrado nas escolas e na imprensa. Deve haver um nome de rua em sua homenagem: LÁZARO ANTÔNIO MACHA­DO. Os nomes das mulheres salvas ninguém anotou, pois as mesmas saíram anonimamente do episódio.

Apitos de saudades
As composições que transitavam pelo trecho do sinistro à noite apitavam de forma languida e chorosa como que numa despedida ao funcionário colega. A população chorava a cada apito lamento. Foi um ato marcante.

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