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A oriental e o horário de verão
Muitos povos orientais tem na cultura histórica a reverência aos mortos. Cultuam os antepassados cada um a sua manei­ra, mas com manifestações diferentes das nossas, de povos ocidentais. Existe o hábito de levar alimentos para os túmulos, colocando-os com muito carinho e respeito nas suas últimas moradas. Depois de os túmulos limpos, orações feitas, eles colocam o alimento que o falecido mais gostava para sua via­gem a outras dimensões.

Tradição cumprida à risca
Uma senhora, cuja família pertencia a um ramo oriental de educação e cultura, sempre comparecia a seu tempo e hora ao Cemitério da Saudade para reverência dos antepassados. Levava o alimento devidamente embalado e materiais de lim­peza separadamente para poder lavar os mármores e as lá­pides onde estavam as inscrições dos nomes e as datas de nascimento e falecimento. Depois colocava os alimentos, ora­va com fervor e em seguida voltava para casa. Os familiares naquele dia deram pela falta da idosa senhora tradicionalista em seus costumes. Uma das filhas telefona para os amigos solicitando que consultassem polícia, hospitais, bombeiros etc. para saber se teria acontecido algum acidente em que ela teria sido vítima. Foram muitos amigos da filha que se mobili­zaram e também às emissoras de rádio, PX, PY, e outros, para tentar sua localização rápida. Nenhuma notícia e nem sinal da velha senhora.

Horário de verão
Na época havia o “horário de verão” e a luz do sol confundiu a matriarca da família, enquanto fazia suas orações e reme­morações. Estava no cemitério e na hora certa, 18 horas, o diretor mandava fechar os portões, depois de uma sirene ser tocada. Ela não ouviu. Estava concentrada demais. Em dado momento ela se dirigiu para uma das ruas laterais do “campo santo”, subiu em tijolos que estavam encostados no muro e viu muitas crianças brincando na via pública. Pensou em não assustar aos pequeninos. Sentou-se no balde que levara para a limpeza e ficou ainda orando e descansando para escurecer. Pensou que as crianças seriam chamadas para suas casas para o jantar. Enquanto isso, os amigos continuavam na pro­cura com os filhos desesperados. Escureceu e ela se aventu­rou a subir novamente à pilha de tijolos para verificar como estava a rua lateral. Subiu, o muro não era muito alto, e achou que não havia mais ninguém na rua. Pegou o balde, pano de limpeza e jogou por sobre o muro. Qual não foi sua surpresa quando vários namorados que ficavam nos desvãos do muro para o “rala e rola”saíram em desabalada carreira com medo de alguma “alma do outro mundo”. Surpreendida pela reação dos amados amantes tentou chamá-los para informar que era “ser deste mundo”. Mas ninguém atendeu ao seu chamado. Todos fugiram mais rapidamente quanto mais ela chamava. Por fim, ela conseguiu escorregar pelo muro, perto do antigo necrotério e voltou para casa com sua calma oriental.

Alegria geral
Todos ficaram exultantes na alegria de reencontrá-la. Em segui­da avisaram aos amigos e acrescentaram a história contada por ela. Depois disso ela voltou várias vezes ao Cemitério da Sauda­de, mas com um despertador dado pelas filhas com horário de verão determinado para que ela não mais se enganasse. A filo­sofia oriental de calma, tranquilidade e amor aos membros da família vivos e mortos ajudaram-na a enfrentar os problemas.

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