Protestos contra o AI-5
No ano de 1968, mês de dezembro, o regime militar recrudesceu a legislação que permitia punições ao arrepio das leis estabelecidas diante de ações do Congresso, com discurso de Marcio Moreira Alves, dando continuidade a uma série de medidas, consideradas, mais duras, pelos estudantes da época, sindicatos, diretórios acadêmicos e outros órgãos da chamada sociedade civil organizada. Os setores tanto de direita quanto de esquerda estavam, mesmo que timidamente, tentando se organizar para registrar um protesto. À época era temerário.
Meninos e meninos daquele tempo
Os meninos e meninas daquele tempo, mesmo os não radicais, queriam também demonstrar insatisfação com os rumos da política nacional. As autoridades locais, consultadas, determinaram que não admitiriam qualquer ato de “insubordinação”. Foi uma agitação nas escolas a partir dos cursos médios. Era a juventude querendo ter o direito a vez e voz, mas sem violência. Os membros dos diretórios acadêmicos e grêmios estudantis se reuniam através das Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundários). Tudo foi estudado devidamente para que não se radicalizasse, mas que se determinasse o inconformismo com a situação. Marcaram a data e os pormenores foram sendo articulados tendo como palco a Praça Barão do Rio Branco, diante do Palácio da Prefeitura, a rua São Sebastião, onde havia o diretório Acadêmico Laudo de Camargo, ao lado do Jornal A Cidade, na Praça XV e na Praça da Catedral.
Tudo “tranquilo”
Quem passasse pelas proximidades das Lojas Americanas constatava a plena normalidade com uma diferença: muitos estudantes namorando no chamado “redondo” da Praça XV. Em dia normal nunca houve tanto casal andando pela calçada daquele logradouro em ritmo de domingo à noite. Em dado momento deu-se um sinal e todos os casais se desfizeram dos pares e se juntaram em uma manifestação ruidosa. Por todos os lados surgiram policiais com cães do canil da polícia, cavalaria e as tropas da infantaria. Os estudantes desfaziam o bloco central e em seguida se reorganizavam em outros pontos de protestos. Até este momento sem violência. Quando chegaram diante da Prefeitura, a cavalaria cercou os manifestantes e os cavalarianos com a espada espalmada davam golpes nos garotos e garotas. Um mais atinado sacou um bolo de bolinhas de gude de rolhas e jogou na rua Cerqueira Cesar, enquanto alguns conseguiram galgar a “careca” do “Barão do Rio Branco” e com isto se viam a salvo das lambadas . Muitos conseguiram invadir a Prefeitura e ficaram resguardados das consequências do ato que julgavam ser uma aventura juvenil.
Reorganização
Os policiais não sabiam como conter os manifestantes que surgiam e em seguida desarmavam o bloco central, entrando pela rua São Sebastião, se protegendo no diretório, ao lado do jornal. Eis que não, senão quando, naquele local estava o bloco dos cães com seus policiais que foram driblados e os estudantes ingressaram naquele diretório. Não havia como dar continuidade a passeata. Uma parte seguiu para a praça das Bandeiras e perto da Catedral começaram a receber golpes de cassetete. Eis que um arcebispo corajoso, Dom Frei Felicio Cesar da Cunha Vasconcelos colocou seu corpo diante dos cavalarianos e não deixou que os garotos e garotas fossem espancados, desde as proximidades das Americanas até diante da igreja.
Estratégia
Os policiais do canil estavam em posição estratégica. Os estudantes retidos no Diretório Acadêmico não tinham como reiniciar a passeata. Um estudante que sempre tinha uma saída para tais ocasiões pegou um “balaio” em que tinha segurado uns gatos. Um verdadeiro “balaio de gatos”, soltou os bichanos em plena rua São Sebastião. Os cães ficaram desesperados e arrastaram seu parceiros pela rua afora, quando os estudantes conseguiram rearticular a passeata e seguiram até a Catedral onde ficou sendo o local da resistência dos jovens no protesto. Sem mortos e sem feridos, apenas com alguns sinais de cassetetes pelo corpo. Todos registraram em suas histórias para contar aos filhos e netos como manifestação pela liberdade e resistência ao AI-5.