Nos tempos de 1964
Deflagrada a revolução, golpe ou movimento – qualifiquem como queiram –, os nervos estavam à flor da pele em abril de 1964, principalmente entre aqueles que tinham a responsabilidade de garantir a mudança de rumos. Em dado momento, um cidadão bem apessoado, parecendo alguém que fazia exercícios diários em academias ou outros locais por dever de ofício, começou a gritar nas proximidades da estátua marco da Revolução Constitucionalista de 1932. Rapidamente policiais que patrulhavam a praça XV de Novembro para evitar manifestações “dos contrários” detiveram o abusado cidadão, que dizia, em alto e bom som, que este era um país era de m…, mas com todas as letras.
Acima de qualquer suspeita
Indignados, os policiais questionaram o homem, um cidadão aparentemente acima de qualquer suspeita. Ele repetia à exaustão que este país não era sério. Levado para a delegacia, retirou do bolso uma carteira mais estrelada que o céu daqueles dias e apresentou à autoridade plantonista. O delegado constatou que não era de sua alçada e chamou o comandante do posto máximo das forças de plantão. Quando os plenos de medalhas chegaram e solicitaram a identificação do revoltado, ele sacou a carteira e viram que realmente ele era acima de qualquer um dos graduados. Soltaram-no, mas não sem antes comunicar ao policial que o detivera que ele seria penalizado por não verificar quem ele havia detido.
Não te falei?
Na saída do plantão, já cheio de curiosos pela movimentação inusitada, o ex-detido chamou o policial que fazia seu trabalho “no particular” e repetiu: “Não lhe falei que este é um país de m…?” Nada mais foi dito e nem lhe foi perguntado.
Fato parecido
Este fato surgiu na memória depois de constatar que o desembargador Eduardo Siqueira passou uma descompostura em um guarda civil municipal, que lhe aplicou uma multa por não usar máscara em Santos, onde é proibido andar sem referida salvaguarda para não receber e nem transmitir o coronavirus. Vários setores condenaram o magistrado do alto escalão do Judiciário Paulista. No frigir dos ovos, como sempre acontece, existem os considerandos e os desconsiderados e nada será feito, não receberá sanções pelo ato antiético, no mínimo. Outro órgão maior lhe determinou 15 dias para se explicar. E assim verificamos que esse país pouco mudou. Será que aquele cidadão da Praça XV estava com a razão?