Tribuna Ribeirão
Geral

Larga Brasa

Sapatinho denunciador
Em uma redação de jornal neste país de meu Deus, o editor sempre era convidado pela secretária para “dar uma esticada” na noite. Ele era casado, tinha vínculo familiar cristão incluin­do sogra, filhos, papagaio e cão. Sempre dizia não. Ela era linda, livre, leve e solta. Ele firme e fiel. Sempre conversavam sobre as notícias, os casos e causos do jornal, mas não inva­diam searas mais particulares. Ela sempre demonstrava estar “arrastando uma asa” para o chefe.

Chuva a cântaros
Certa feita, nem os serviços de meteorologia previram a chuva que iria cair na região. Choveu a cântaros. Era noite e ao sair do trabalho ele viu a sua secretária em meio à chuva, no pon­to de ônibus, com os sapatos na mão e molhada a não mais poder. Ela fez um sinal para o companheiro de jornada e pediu uma carona para chegar até sua casa. No meio do caminho houve o reiterado convite para ir até sua casa tomar um licor, vez que as ruas estavam intransponíveis. Ele, enfim, aceitou. Ela subiu descalça as escadarias do segundo andar, onde mo­rava, e ficaram a noite toda. Enquanto a chuva caia, tomavam o licor de jabuticaba que sua mãe fazia na roça. Pela manhã, ao despontar do sol, ele lembrou que havia combinado com a família de ir para o litoral no início de suas férias. Desligou, mas levantou-se lépido e rapidamente saiu com o carro em condições meteorológicas melhores.

Rumo ao mar
Todos estavam ansiosos aguardando, mas a informação de que ficara estacionado no caminho pela situação das ruas plenas de água facilmente foi entendida. Todos entraram no carro compacto. A mulher na frente, a sogra atrás e tudo o que tinha direito: filho, cachorro e até papagaio. E transitaram pela Dom Pedro I. Perto de Bragança Paulista eis que ele coloca a mão por debaixo de seu banco e sente um pé de sapato sol­to. “Pronto, ele pensou, a secretaria se esqueceu do sapato na hora de subir as escadas sob a chuva.”Pensou rápido de como sair da situação e não deixar que o calçado iniciasse em inquérito familiar. Disse à esposa e aos outros passageiros que o carro estava um tanto desgovernado e que deveria ser pneu murcho. Pediu à mulher para olhar para os pneus do lado dela, enquanto ele observava os da sua área. Abriu a porta e, rapidamente jogou o sapato no acostamento da rodovia, logo além de Campinas. Ele afirmou que estava tudo certo e que iriam parar no primeiro posto da Dutra.

Enrosco
Quando estacionaram no posto, depois de verificarem os pneus, foram para o restaurante. Todos desceram menos a sogra que estava inquieta, se revirando de um lado para o ou­tro, como se estivesse procurando alguma coisa. A filha foi até a velha senhora e perguntou: – “Que é que a senhora a senhora está fazendo?”. A mãe esbaforida dizia com ênfase. “Eu coloquei o sapato aqui. Tenho certeza. Não é possível!”. A filha ainda dizia que ela devia ter se esquecido, colocou um pé e se esqueceu do outro. E ali ficaram enroscados por muitos minutos. O jornalista estava tranquilo por um lado e chateado por outro. Ele jogara o sapado da sogra na estrada. Manteve se em “copa” e continuou com o casamento, prometendo nunca mais cair no canto da sereia.

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