Tribuna Ribeirão
Geral

Larga Brasa

Estátua do Rio Branco assistiu a tudo impassivelmente
No final dos anos 60, quando do chamado “Anos de Chum­bo” houve um recrudescimento do regime por conta de resis­tências políticas de setores de Brasília e de muitas cidades brasileiras. Resolveu-se endurecer e o AI-5 foi editado pelo Governo Federal com reações das mais variadas classes so­ciais, principalmente trabalhadores vinculados a sindicatos e a estudantes ligados a representações estudantis como UNE (União Nacional dos Estudantes), UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundários) e de outros órgãos de representativi­dade da comunidade. Os estudantes eram os que mais se ma­nifestavam afrontando aos que tinham a missão de zelar pela ordem e pela continuidade do movimento de 31 de março.

Estudantes de entidades ou sem coloração partidária
Estudantes estabeleceram uma estratégia para que a mani­festação tivesse êxito antes que a polícia iniciasse a repres­são. Na Praça XV de Novembro os jovens começaram a fa­zer o “footing”, em plena tarde com os casais agindo como o que faziam nos finais de semana, andando em círculos nas proximidades do relógio, diante do Pedro II e ao derredor da demarcação da fonte do centro da comunidade. Em dado momento, palavra de ordem foi dada e todos se deslocaram rumo ao Palácio Rio Branco entrando o aglomerado pela rua São Sebastião, na contra mão, diferente dos representantes “do grupo de repressão”, que aguardava na General Osório. Eis que, senão quando, um “mundo” de estudantes adentra pela Cerqueira Cesar também na “contra mão” surgindo da São Sebastião, onde se situava a sede da entidade representativa dos estudantes da Faculdade de Direito Laudo de Camargo, o Centro Acadêmico que sempre se manifestava enfaticamente.

Do outro lado
Em sentido inverso estavam a cavalaria, o canil e demais po­liciais militares a pé, Polícia Civil e outros camuflados. Não se ouvia nada, era o “som do silencio” que prenunciava que algo de mais sério iria acontecer.

Estouro do grupo
O grupo formado por milhares de jovens partiu com cor­rentes múltiplas no sentido do Palácio Rio Branco. Na praça diante daquele histórico local e com a herma do Barão do Rio Branco a tudo assistir. A cavalaria foi para cima dos manifes­tantes com as espadas em riste e dando com a parte chapa da arma no traseiro dos meninos e meninas. Eles estavam pre­parados. Arrancaram de embornais com bolas de gude e de rolhas de vinhos e lançaram pela Cerqueira Cesar e pela outra rua lateral da Prefeitura. Alguns conseguiram entrar no prédio quando as portas estavam entreabertas. Os que ficaram de fora enfrentaram a reação da polícia que surgiu de todos os quadrantes. Cassetetes, espadas, cães mordendo nos calca­nhares e haja coragem e determinação. Um dos estudantes se postou em cima da careca da estátua do Barão do Rio Branco e os cavalarianos não conseguiam atingi-lo, nem com espada e muito menos com cassetete.
Mas os jovens não estavam contentes, quando os represso­res pensaram que eles estavam com a passeata desfeitas, eles se dispersaram e se dirigiram de volta a rua São Sebastião para a sede do Diretório Acadêmico ao lado do jornal A Cidade e ficaram abrigados dentro da grande casa que foi sede do Jóquei Clube . Os policiais com seus cães e outros a pé fica­ram diante dos estudantes com os cães prontos para o ata­que. Clima de guerra e de desespero tomou conta de alguns, principalmente dos comerciantes que fecharam as portas de suas lojas

Solução do bolso do colete
Um estudante mais articulado havia preparado uma estraté­gia: apanhou vários gatos da cidade e os colocou dentro de um balaio. Não é apenas expressão linguística, era um balaio de gatos mesmo. Em dado momento o balaio foi aberto e os gatos escaparam pela rua São Sebastião. Correria geral. Os policiais não conseguiam segurar seus cães que os arras­tavam pelo centro da cidade. Os que promoviam a passeata conseguiram sair do Centro Acadêmico e foram para frente das Lojas Americanas, na General Osório, onde ficou o arce­bispo Dom Frei Cesar da Cunha Vasconcelos que se colocou à frente dos cavalos e impediu mais violência. Todos correram para a Catedral, na Praça das Bandeiras (era esta sua denomi­nação a época) onde Dom Frei Cesar abriu as portas e deixou a que todos os estudantes ficassem rezando diante dos altares. Nunca se viu tanto jovem fazendo suas orações diante dos santos. Muitos outros episódios ocorreram como o do artista Leopoldo Lima que tinha seus varais com as obras em madei­ra na Praça XV que perguntou a um cavalariano “quem é mais animal, o de cima ou o de baixo”, não conseguiu completar a pergunta e recebeu toda a sorte de violência, além de outros casos. No final da noite estudantes eram vistos na sede do Diretório Acadêmico bebendo umas cervejas comemorando a saída e a manutenção da passeata. Meninos, eu vi.

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