Tribuna Ribeirão
Geral

Larga Brasa

Briga na praça pelo defunto
A Vila Abranches foi planejada por um loteador visionário que tinha planos de fazer de um bairro, uma minicidade. Construiu praças, igreja e toda infraestrutura. Até um salão comunitário ele edificou para dar suporte ao desenvolvimento da estrutura urbana que sonhou. No começo foi difícil. Naquela época o local era distante do Centro de Ribeirão Preto. O comércio era pequeno e com poucas opções. As famílias que adquiriram os primeiros lotes eram de poucas posses. Mas, mesmo assim, o bairro desenvolveu e cresceu. O seu idealizador foi vereador na Câmara Municipal e conseguiu abrir ruas, fazer ligações e até o ônibus ele fez circular por aquele bairro.

Divorciado
O então vereador era divorciado e estava querendo se casar novamente. A igreja que ele construiu ficou com a responsabi­lidade da Igreja Católica Apostólica Romana que não admitia o casamento de separados legalmente. Ele não poderia se casar na igreja que ele construiu em plena praça pública do bairro da vila que possuía seu nome. Alguns emissários da Igreja Ca­tólica Apostólica Brasileira foram até ao empreendedor e lhe ofereceram a possibilidade de ele fazer o seu segundo casa­mento no templo, desde que aquela religião assumisse a igreja de Vila Abranches.

Solução salomônica
Depois de muitas reuniões com as freirinhas que faziam o tra­balho de catecismo e acompanhamento social do bairro e com os padres da “Católica Brasileira” ele decidiu transferir a igreja da praça para os seguidores do Bispo Dom Luiggi Másculo e o Centro Comunitário para a Igreja Católica Apostólica Romana, das freirinhas. Não ficou do gosto da população, pois a maio­ria era da Romana, mas as freiras do Auxiliadora continuaram a fazer o trabalho e a cabeça dos que ali residiam.

Morreu um morador
Em meio a turbulência religiosa eis que morre um rapaz cuja mãe era Católica Romana fervorosa e ele frequentou a Igreja Católica Brasileira. Começou então uma disputa sobre o local em que o corpo seria velado. A mãe queria que fosse no centro comunitário da turma da Romana. Outros desejavam que o fa­lecido fosse velado na Igreja que afirmavam que ele pertencia.

Briga na praça
Na manhã seguinte ao óbito, o corpo no caixão chegou no carro da funerária e ao ser retirado para ser encaminhado para o veló­rio, em plena praça central do bairro, começou uma pendenga. Para que lugar o caixão seria levado: para a igreja da Brasileira ou para o centro comunitário da Romana. Fiéis das duas agar­raram o caixão e cada grupo puxava o corpo com caixão e tudo para um lado e para outro. Em meio a confusão a mãe externava a sua vontade de que fosse para o centro comunitário e o Bispo Dom Luiggi ali presente, agarrado a alça do caixão indicava a direção da igreja sob sua responsabilidade. Neste momento co­meçaram as discussões e xingamentos. A mãe se revoltou com a atitude do chefe da Igreja Brasileira e começou a dirigir-lhe ofensas. O velho calvo de batina esvoaçante gritava a plenos pulmões com seu português arrastado “macumbeirra”.

Meio a meio
Neste momento chegou um padre muito respeitado no bair­ro. Ali era o pároco e chamou o bispo de um lado e a mãe do morto do outro. Conversou a sós com cada um. Ambos saíram felizes e a população reunida diante da igreja e também do centro comunitário aguardava silente para saber a solução. O padre convenceu ao Dom Luiggi que o corpo iria para a igreja em meio período e depois no outro período que seria velado, iria para o centro comunitário. A população do bairro acompa­nhou o velório nos dois locais e a paz voltou a reinar em Vila Abranches. Menino, eu vi e gravei.

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