Exemplo de pujança e boa vontade
Em tempos não muito longínquos em uma cidade de porte médio, naquela época, um jovem repórter fazia reportagem policial em que os boletins não eram lidos, mas acompanhados ao vivo e a cores, diretamente dos locais em que os fatos ocorriam e em última instância na própria Delegacia Central de Polícia, no Centro. Quando os fatos aconteciam, as viaturas policiais eram acompanhadas pelos repórteres mesmo nas casas de luzes vermelhas. A chamada zona do meretrício tinha o seu local demarcado e policiado e nas chamadas chácaras, que geralmente funcionavam com “proteção” de superiores, as luzes não eram vermelhas e o funcionamento era diferente. O pessoal que frequentava era o de chamado “alto coturno”. Ali, dificilmente os camburões faziam “batidas”. Sempre era sim senhor, por favor, quando compareciam. Noitadas aconteciam com mulheres “de classe” e homens abastados.
Caiu de paraquedas
Certa feita, em uma destas chácaras a reportagem havia sido chamada para entrevistar um grupo de competidores de um campeonato aviatório. Era uma festa normal em local diferente segundo os competidores. Os campeões estavam sendo homenageados e as mulheres estavam passeando pelos amplos salões. Tudo muito chic e com o máximo respeito. Em dado momento, uma das moças se agarrou ao braço do repórter que segurava um gravador Philips e solicitou baixinho: “por favor deixe-me ficar aqui ao seu lado. Ontem fui agredida por um dos rapazes da festa que foi grosseiro comigo. Eu não sou desta região e vim para esta casa, pois me falaram que era diferente. Sou estudante e perdi as minhas condições financeiras. Em grau de desespero vim para a vida que eu nunca pensei estar”. O repórter foi pego de surpresa e disse que se fosse para ela ficar tranquila que ficasse ao seu lado que, pensava ele, nada lhe aconteceria. Ao sair daquela chácara ele a levou a um hotel de amigos e pediu para que ela ficasse até encontrar um horizonte para sua vida.
O dia seguinte
O repórter, anos depois, ficou sabendo que ela foi a igreja de um bairro próximo fazer uma oração para agradecer o que lhe havia acontecido e pelo “acordar” daquela situação. Quando ela fazia suas orações ajoelhou-se ao seu lado um jornalista que estava perturbado pela situação financeira e por problemas de saúde. Os dois conversaram e se uniram dias depois quando se casaram. Estudos. A jovem era estudante em sua cidade natal, conforme havia dito. Continuou os estudos e neste ínterim o seu marido faleceu. Ela continuou com afinco a aprimorar-se no Direito. Prestou concursos e foi aprovada com distinção. Chegou a desembargadora em uma unidade da Federação. Com força de vontade, integridade e vocação chegou aos mais altos graus da magistratura. Da casa da luz vermelha para os tapetes vermelhos dos altos julgamentos. Deve ter-se aposentado. Foi um exemplo. Às vezes basta que o ser humano tenha oportunidade.