Tribuna Ribeirão
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Larga Brasa

A bronca da guia russa
A convite do Governo Russo fomos para a URSS visitar as repú­blicas e os locais onde eram aplicadas as chamadas novas téc­nicas de administração. O convite foi feito pelos russos com tudo pago, inclusive as despesas com o visto de entrada, que não era carimbado no passaporte por possíveis implicações nas origens dos convidados. Quando chegou o documento com o convite estávamos na Alemanha e a documentação foi apresentada no consulado da URSS. O visto foi entregue em Munique depois de vários dias, talvez por termos colocado jornalista como profissão do visitante.

Entrada complicada
No aeroporto de Moscou o ingresso era demorado, pois o vi­sitante deveria mostrar o Visto de Entrada e tudo era cons­tatado. A altura, a cor dos olhos etc. Para constatar a altura havia um espelho situado às costas do convidado e vários ris­quinhos mostravam quantos centímetros ele tinha. Os olhos eram verificados pelo agente com olhar profundo e fixo por muitos minutos. Depois fomos liberados. Na saída do aero­porto havia uma guia que falava português, que perguntou quem era o jornalista e nós nos apresentamos. Ela afirmou que teríamos a liberdade de verificarmos o que desejássemos. E fomos visitar os locais onde iríamos ficar, bem próximos do Kremlin, a Praça Vermelha.

Três familias em um apartamento
A guia foi falando das maravilhas do regime e afirmava que ela e mais duas famílias residiam em um apartamento de 27 metros e que estavam contentes com um banheiro e dois quartos, caben­do a ela dormir na sala.

Universidade- Hollywood e Dashas
No dia seguinte fomos para a Universidade Patrice Lumumba, que nós visitamos e eram decantadas todas suas virtudes e di­tas facilidades para os estudantes. Passamos pela considerada Hollywood Russa e ao lado pelas Dashas (chácaras) onde resi­diam os membros da alta administração. Ela enfatizava que os dirigentes do partido e os administradores precisavam morar de forma diferente e melhor que o povo, pois recebiam muitos visi­tantes de outros países. Neste momento dissemos a ela que esta desculpa também tínhamos em nosso país. Ela voou de dedo em riste para nosso lado e soltando palavras em russo misturadas com as de português “macarrônico” repetia que no Brasil tínha­mos favelas, e que nas repúblicas que formavam a URSS não ha­via este tipo de moradia. Respondemos que as nossas favelas eram horizontais e as de lá eram verticais. Faltou pouco para ela jogar um pesado livro na minha cabeça. Depois deste fato co­mecei a ver um cidadão imenso, tal como a Terra (achatado nos polos e dilatado no equador) que tentava se esconder atrás de postes para nos vigiar. Apesar de tudo aquele país é maravilhoso e seu povo muito receptivo. Não deixe de visitar o Museu Hermi­tage em São Petesburgo, ex-Leningrado.

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