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Larga Brasa

Reporter encontra ‘furo’ no obituário
Nos tempos mais difíceis da chamada “Revolução”, um repórter começou a verificar nos jornais, nos anúncios de falecimentos, as noticias de mortes de quinze crianças entre alguns meses de vida e poucos anos de vivência. Depois de percorrer os chamados caminhos das informações oficiais e não encontrar quem se ofe­recesse para falar sobre o assunto, todos demonstrando medo, o jornalista foi às funerárias e através dos laudos das necropsias apurou que referidas crianças estavam em um hospital e que al­guns estudantes haviam feito uma punção na espinha de algu­mas com meningite e tal fato motivou a disseminação da doença para outros recém-nascidos e com pouco mais idade, as quais morreram rapidamente. O repórter sem aguardar posição oficial que era difícil naquela época – e o é hoje – também divulgou o fato pela rádio e pelo jornal em que trabalhava. Foi um alvoroço total no centro e nos bairros

Recados da ‘ chefia’
Repórteres que haviam participado de uma cerimônia em que as mais expressivas autoridades civis, militares e eclesiásticas recebe­ram, do que se responsabilizava pela vida da comunidade pelo pos­to que ocupava, um recado que ele precisava falar com o repórter “ furão”. Os colegas o avisaram de forma trêmula, pensando que o jornalista poderia sofrer alguma punição mais grave do que a lei da imprensa determinava.

Visita do reporter ao chefe
O repórter foi à repartição do “Chefe” e ele o recebeu com café, mas com uma orientação: “Quando o rapaz vier buscar o bule o senhor para de falar e aguarde ele sair”. O repórter ficou atemori­zado. Em seguida ele perguntou se ele havia noticiado as mortes dos bebês. Ele garantiu que o fez e que havia buscado nos bo­letins médicos e do Serviço de Verificação de Óbito a garantia de que o fato aconteceu. Ele estava preocupado com a repercus­são, pois na cidade houve uma revolta geral. E, com gravidade, ele continuou: “A partir de hoje o senhor não vai dar mais noticia deste tipo”.

E agora, José.
Meio atemorizado pela situação do momento em que a cidade, o Estado e o País passavam o repórter falou: “Como vou fazer o programa… Vou noticiar casamentos, peladas de campos de vár­zeas…” O “Chefe” disse se vire. O repórter ousado lhe respondeu: “Autoridade, vamos então fazer o seguinte. Todos que me procu­rarem na rádio e no jornal eu não converso e nem procuro saber o problema. Mando-os para o senhor aqui na sua repartição”. O homem enrubesceu e respondeu: “O senhor tem cópia de todos os laudos que o senhor diz ter procurado”. O repórter respondeu assertivamente. E ele continuou. “Então fica tudo como antes. Continue a dar as noticias, sempre preocupado em ter documen­tos em mãos”. E ficamos conversados. Mas que eu fiquei com paúra, ou medo, fiquei.

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