“Zé da Mangueira”
Pelos idos de 1971 o tóxico já fazia vítimas. A cocaína começava a substituir a maconha que sucedia ao álcool. Muitos jovens, alguns deles de famílias de destaque na sociedade, tanto pelos méritos e estudos de seus membros como pela posse de bens e dinheiro, se envolviam com bandidos da pior espécie. Depois de embalados pelas drogas mais fortes, incluindo o haxixe saiam a dar cavalos de pau em seus possantes veículos, a traficar e a cometer desatinos. Quando a autoridade policial tentava agir, os pais ou seus advogados se insurgiam e apresentavam um atestado de boa conduta dos meninos (geralmente eram homens) que estudavam nos melhores colégios e poucas faculdades naqueles tempos.
Mistura de drogas e bandidos
A mistura de droga e bandidos juntando com os “filhinhos de papai” como eram conhecidos os playboys da época motivava uma composição explosiva. Nos altos da cidade, moradores constataram as peripécias de um grupo, onde dois maiores se destacavam negativamente, oferecendo drogas também para às meninas. Rapidamente a Polícia foi chamada e os Policiais Militares tentaram prendê-los. Um tiroteio não muito frequente naqueles anos acordou a todos que residiam na área do Alto da Boa Vista. Um dos jovens, desconhecido na cidade, morreu abraçado a um pacote de cocaína e outros dois fugiram. Depois de muitos rodopios nas curvas do Sumaré um deles foi preso. Era gente bem. Outro bandido da mais alta periculosidade pulou por vários telhados e chegou a uma residência na esquina das ruas São José e Lafaiete, ao lado da Igreja de São José. Ele se escondeu em meio aos galhos de uma frondosa mangueira.
Polícia e bombeiros
A Polícia com a ajuda de Bombeiros e seus potentes holofotes cercou o quarteirão e entrou no quintal da frondosa mangueira. Os holofotes foram direcionados para o alto onde reluziam duas pistolas nas mãos de um cidadão não tão jovem, mas parecendo muito experiente na malandragem. Quando se viu descoberto o bandido tentou um diálogo. Pediu inicialmente que um membro da imprensa subisse em uma escada dos “homens do fogo” para conversar com ele. Um jovem repórter subiu e sentiu o que ele queria era ganhar tempo. Com os holofotes para seu rosto direcionado ele não podia constatar a sua situação e aguardava o sol raiar para ele tentar descer . Depois pediu que um padre de uma paróquia subisse. O religioso assim o fez, aconselhando-o a se entregar ao invés do enfrentamento.Ele arrumava outra desculpa e pediu para um Delegado subir. Sua vontade foi satisfeita, mas de nada adiantou o bom latim da autoridade. Enquanto isto os policiais tomavam conta e posição do quintal da residência.
Esposa no final da gravidez
O repórter que estava cobrindo o acontecimento havia se casado há pouco e sua esposa estava grávida do primeiro filho. Ela ficou sentada em um Volks à porta do local das negociações desde o começo, angustiada pela sua situação e pela energia negativa que emanava no ar da tal mangueira. Vez por outra ela a atendia com algum lanche ou água, mas não podia sair dali uma vez que o desfecho poderia acontecer a qualquer momento.
O sol raiou
O que o tal de “Zé” que passou a ser alcunhado de “Zé da Mangueira” queria estava acontecendo. O sol raiou e ele começou a se aprumar em meio aos galhos para preparar a sua descida. Estava armado com duas automáticas e àqueles com os quais conversou avisava que não iria se entregar e os que estavam no quintal que se preparassem para os tiros das balas com pontas de aço. Os holofotes estavam acesos ainda, mas ele era senhor da situação no visual. Começou a descer e apontou as suas armas onde as autoridades mais graduadas estavam aglutinadas. Quando deu o primeiro tiro uma saraivada de balas o atingiu, caindo dos galhos mais altos e sendo amparado por dois varais de fios de aço. O repórter gravava os tiros de um lado e o que ele deu em meio à batalha. Ele foi socorrido pelo pessoal da Policia Civil e levado rapidamente a um hospital que não se situava distante da igreja de São José. Pelo que o repórter viu ele estava morto e a Polícia apenas fez os procedimentos de praxe. Efetivamente o bandido morreu, crivado de balas. Não se sabe quantas, mas suas pistolas haviam sido acionadas.
Troféu Carlos Espera
A Rede Tupi de Televisão, que era a Globo da época, entregou ao repórter o troféu que tinha o nome de um grande repórter “Carlos Espera”, entregue na Capital com todas as homenagens que julgaram referido repórter merecer. A gravação foi única, das conversas e do tiroteio final. A jovem esposa do jornalista lhe deu um ultimato: “Enquanto eu estiver grávida deste filho, nunca mais faça a cobertura de um tiroteio ou de qualquer acontecimento violento.” Assim morreu “Zé da Mangueira” que até hoje encontra seguidores na droga e na violência.queria estava acontecendo. O sol raiou e ele começou a se aprumar em meio aos galhos para preparar a sua descida. Estava armado com duas automáticas e àqueles com os quais conversou avisava que não ir.