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DA ROÇA PARA O TOP FINANCEIRO
Há alguns anos, uma humilde senhora compareceu à emissora de rádio que trabalhamos para solicitar um favor. Ela morava em uma fazenda em região não muito distante e doou seus dois filhos, me­nino e menina, à dona do latifúndio. Suava para tirar o sustento, vendia o almoço para pagar a janta e não tinha condições de criar o casal. Então, como acontece em qualquer rincão deste Brasil de meu Deus, pediu para a patroa cuidar bem dos dois.

Depois de mais de 20 anos ela voltou ao local onde trabalhava na roça e ficou surpresa ao saber que a proprietária da fazenda havia vendido suas terras e se mudado para São Paulo. Ninguém tinha o endereço da mulher. Caboclo algum sabia o rumo da dona ou não queria fornecer à mulher o local onde seus filhos se en­contravam. Mas a mãe não desistia. Continuava a procurar seus rebentos, entregues a uma família riquíssima, dessas “quatrocen­tonas”, de linhagem respeitada pela comunidade paulistana.

APELOS PELO RÁDIO
Os apelos continuavam sendo irradiados solicitando informações a respeito das crianças, que já estavam na fase adulta. Além dos chamados radiofônicos, a mãe viajava para as fazendas próximas de onde ela deixou crias e onde cuidou da terra por anos. Foram vários dias em uma busca incansável. Não obteve êxito.

TELEFONEMA DO EXTERIOR
Certo dia, o telefone da rádio tocou na hora do nosso programa e uma senhora com educação esmerada e português escorreito pediu para falar com o repórter que estava fazendo o apelo para encontrar as duas crianças, já adultas naquela época. Ela come­çou a conversa implorando:

“Por favor, não volte a falar desta procura. O senhor vai aca­bar com dois casamentos que estão por acontecer, com noivo e noiva das mais qualificadas famílias, financeiramente falando do mundo dos bancos etc. Eles são considerados de nossa família e foram registrados como nossos filhos. Se esta informação cair no conhecimento das outras famílias ‘quatrocentonas’, por certo elas perderão seus casamentos e retornarão às condições em que se encontravam quando foram doadas “.

“Por favor”, dizia a mulher, “parem com esta divulgação. Não estrague a vida destes jovens”. Fizemos o que julgamos correto. Não conseguimos identificar de qual país originou a ligação do ex­terior. Depois ficamos sabendo que os casamentos foram realiza­dos. A mãe faleceu sem encontrá-los. Ninguém sabe quem são e eles também não sabem desta história e talvez jamais saberão.

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