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Larga Brasa

Quase um feminicídio eleitoral
Um cidadão cearense pegou um caminhão “pau de arara” no Nordeste e veio para São Paulo se aventurar e enfrentar o desco­nhecido Sudoeste. Parou em Ribeirão Preto onde ouviu falar que tinha muito trabalho na plantação de cana de açúcar, onde ele teria casa, cama , comida e salário. Encontrou outros companhei­ros de seu Estado natal e principalmente da região de Ypu. Foram contatados por um “gato” que contratava a mão de obra para os poderosos. Ele possuía muito boa vontade e enfrentou a época das sete ruas, onde o trabalhador tinha que trabalhar muito, mas ganhava acima do salário da época. De sol a lua ele se esforçou. Não gastava em nada que não fosse o normal, não possuía ócu­los escuros, radinho de pilha. Só o fogãozinho “Jacaré” em que ele fazia sua comida , simples mas substanciosa. A cada mês economizava o seu salário, juntou bastante mensalmente, pois era econômico, no linguajar dos colegas “mão de vaca”. Não par­ticipava das umbigadas e o seu objetivo era trazer a mulher com quem havia acabado de se casar em sua cidade natal.

Subiu de posição social
De tanto trabalhar e observar seus chefes ganhou status e, ga­nhando mais, conseguiu trazer esposa e seus pais para morar em um bairro humilde, porém honesto. Arrumou emprego para seus pais e para a mulher e era muito querido pelos seus cole­gas que até chegaram a cogitar de ele sair candidato a vereador em Ribeirão Preto. Trabalhou bastante e gastou muito do que havia economizado. A mulher não falava nada, só olhava e não dizia se concordava ou não. Ele era entusiasmado, contando com as promessas que faziam a ele nas visitas aos amigos e colegas de trabalho. Todos estavam com ele, positivo. “Esta­mos contigo e não abrimos”, diziam. E ele continuou a faina em busca de votos. Já se achava vereador . Ele se via tomando posse e queria convidar aos que o ajudaram a chegar à cadeira da edilidade. Era o máximo. Mandava binoclinhos aos amigos que ficaram no seu Ceará para mostrar ele andando nas feiras, participando de churrascos que ele pagava).

Partido incensava
O partido a que ele pertencia não lhe dava nada, mas dizia que pelas estatísticas e quociente eleitoral ele estava eleito. Ele acreditou.

Dia da eleição
No dia da eleição correu todas as escolas onde os eleitores vo­taram. Abraçava alguém que não conhecia e lembrava fatos dos que diziam ser seus amigos. No final estava exausto. Correu para a Cava do Bosque, onde seria a apuração das eleições. Nem se preocupou com o seu prefeito e seus colegas que disputavam a vereança. Ali se postou durante toda a noite e o dia seguinte e outra noite e mais um dia. Resultado das urnas. Cearense zero voto Não havia sido apurado nem o seu voto. Ele ficou cego de raiva e foi para casa possesso. Entrou na cozinha onde se en­contrava sua mulher e bateu com toda a sua força na sua com­panheira. Ela gritava e ele batia dizendo que nem ela, nem a sua esposa havia votado nele. Mesmo apanhando ela perguntava: “E o seu voto”. Ele não respondia. Batia mais ainda. Ela precisou ser internada e ele pegou seu carro e voltou para YPU, no Ceará, sem se despedir de seus pais, de sua esposa, que precisou ser inter­nada e de seus amigos. Sumiu. Os policiais que foram entregar a intimação pela agressão a esposa não o encontraram aqui e nem os do Ceará o viram por lá. Ninguém nunca soube o que acon­teceu com o voto dele, pois ele afirmava que era alfabetizado e naquele tempo o eleitor precisava escrever na cédula o nome do candidato a vereador. Acredita-se que ele se confundiu na hora de escrever seu nome. A mulher pagou o pato.

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