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‘Morro virgem, mas não me entrego’
Em tempos que já se distanciam da memória, o Centro de Ribei­rão Preto era um shopping a céu aberto. Todos os negócios eram feitos lá. Os bancos se concentravam no chamado “quadrilátero central”, compreendido entre as avenidas Jerônimo Gonçalves, Independência, Nove de Julho e Francisco Junqueira. No “miolo” estavam todas as lojas e quando das vésperas de datas espe­ciais, a população se concentrava na General Osório e adjacên­cias. Naquela rua também existia uma emissora de rádio que era das mais ouvidas e em cujo auditório os programas recebiam os ouvintes que assistiam a sua programação. Referida emissora ti­nha gente de vulto da radiofonia nacional que chegou do Rio de Janeiro para vivenciar Ribeirão Preto de outrora.

O faz tudo
Havia um rapaz que era empregado da rádio e que passava de loja em loja conversando com seus empregados e proprietá­rios. Todos queriam saber das particularidades dos radialistas. Televisão não existia. Referido rapaz tinha suas dificuldades mentais e, muito brincalhão, falava que todos os que traba­lhavam em rádio eram gays, palavra que tinha um significado pejorativo à época. O que ele falava repercutia com maior ou menor intensidade, conforme o conhecimento de seus proble­mas de saúde. Certa feita ele dizia que o famoso apresentador de programas de auditório, que havia sido o professor de Silvio Santos, no Rio de Janeiro, era chegado a homem. O que não era verdade. O profissional da emissora ficou bravo com o dito pelo pobre rapaz e preparou uma armadilha para ele.

Pleno Natal movimentado no Centro
Na época do Natal, quando o centro fervilhava, com os consumi­dores procurando as lojas para adquirirem os presentes, referido “ofendido” chamou o rapaz para ajudar na mudança de uma mesa em sua sala. Ele era muito solícito em auxiliar a quem precisasse de seus préstimos. Foi. Quando entrou na referida sala a porta foi fechada e o tal que ele dizia ser gay disse ao atemorizado rapaz: “Você não disse que eu era gay, agora você vai ver…” Era uma brin­cadeira, mas não foi entendido como tal. A janela ficava junto com a plataforma das lojas da parte térrea, por onde passavam os fios de alta tensão. Ele pulou referida janela e ficou em cima da pla­taforma, perigosamente junto com os fios de energia elétrica. En­quanto se distanciava do locutor ele gritava: “Morro virgem, mas não me entrego.”. O profissional do microfone, apavorado ligou para os Bombeiros, chamou amigos tentando transmitir para o ra­paz que era uma brincadeira, mas ele não acreditava. Enquanto isto a população se juntava na esquina da General com Amador Bueno. Polícia, Bombeiro e ambulância chegaram juntos para o resgate.

Notícia urgente
Outra emissora acompanhou o fato e também jornais, não sabendo que era brincadeira, estavam lá, no Centro de Ribei­rão Preto, acompanhando a movimentação de todos. Final do fato: conseguiram tirar o rapaz com problemas de redução de entendimento da plataforma e ele se dizia salvo e repetia: “morro virgem, mas não me entrego”. Nunca mais ele disse nada sobre a masculinidade dos colegas.

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