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GOLPE DO ‘USUCAMPEÃO’
Em uma cidade hipotética, que os mais antigos chamavam de Juritiquituba, longe daqui e de nosso estado, havia um tipo de golpe contra compradores de lotes de terrenos em determinada área daquela localidade. Alguns espertalhões formaram uma quadrilha que contava com a ajuda de funcionários públicos e de alguns advogados acima de qualquer suspeita. Os que trabalhavam na seção de cadastro da prefeitura levantavam quem não pagava os impostos de terrenos comprados e que nem sabiam a localização e passavam para o todo poderoso articulador da trama. Ele tinha uma corja que colocava uma fa­mília muito pobre na área inadimplente e fazia um contrato com o trabalhador que precisava de um teto, e dele não cobravam aluguéis. Pagavam o IPTU do lote religiosamente. Passados os anos ingressavam com ação de Usucapião, que o caipira falava “Usucampeão”, em nome do pobre homem que ocupava o ca­sebre. A ação dava ao trabalhador humilde o direito da terra por aquele instrumento jurídico cujos impostos a quadrilha pagava. Quando terminava a ação, os papéis e promissórias assinadas no início do “aluguel” eram cobrados. A família era despejada e o “todo poderoso” anexava os terrenos aos inúmeros que ele amealhava desta forma.

SEM EIRA E NEM BEIRA
O pobre homem e sua família ficavam ao relento e geralmente voltavam para sua cidade de origem sem nada e enriquecendo o já pleno de dinheiro que articulava o estelionato. Um grupo de pessoas bem intencionadas daquela longínqua comunida­de resolveu “peitar” o rico empreendedor. Organizaram uma entidade com apoio de médicos, advogados e duas freirinhas, além de um padre de calcanhar roxo. Começaram a reverter os processos do “Usucampeão”. Montaram uma igreja pobre, mas cheia de fé e a Justiça promoveu a formação de um bairro dos pobres e oprimidos prejudicados. Tiveram de volta seus bens e o cidadão e sua equipe de estelionatários ficavam sem os referidos lotes, embora outros inúmeros mais restaram de vítimas que não compareceram para reclamar, pois nem sa­biam de seus direitos.

COMUNIDADE
A comunidade constituída pelo bairro que era de trabalhado­res da lavoura, geralmente no corte de cana prosperou e hoje é um grande bairro de Juritiquituba. Os profissionais que se juntaram para a reversão dos golpes montaram uma capelinha em que a pia de batismo era um prato fundo. O óleo santo fi­cava em um vidro de remédio e a água benta ficava em saleiro. E todos foram abençoados.

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