Não caiu. Ainda resta uma esperança
Em idos tempos de uma cidade grande em que a juventude estava mais para brincadeiras dançantes, flertar com as garotas e passear nas praças públicas e nas quermesses, principalmente do Asilo Padre Euclides, da Igreja Santo Antônio, da Casa de Portugal, etc… os meninos, principalmente, sempre ficavam nos sonhos e aplacavam os arroubos da idade com folguedos, jogos, etc.
Dificilmente conseguiam ir adiante do “rala e rola” e quando conseguiam com algumas mais ousadas das avenidas Francisco Junqueira e Jerônimo Gonçalves se apavoravam pelas consequências muitas vezes previsíveis: “doença venérea, que tinha nome e uma porção de codinomes”.
Os estudantes se desesperavam com os sinais bem patentes e o medo das consequências do “day after”, que eram cantadas em prosa e verso. Quando o coçar da uretra e outros sinais líquidos apareciam o jeito era procurar um farmacêutico ou, quando o tempo havia passado além de um limite de dias, conseguir uma consulta com um médico especialista em urologia.
Sala em cima do Pinguim
Havia um médico jovem cujo nome fazia parte do anedotário dos imberbes adolescentes cujo consultório se situava em cima da famosa choperia Pinguim. Subir até o andar em que o consultório era instalado era motivo de comentários por parte de quem ali trabalhava. Mesmo com os temores da época em que religião, pressão dos pais e mesmo o senso comum geravam maledicências sobre quem tivesse a doença.
Muitos se arriscavam e se dirigiam à famosa sala. No local uma senhorita os recebia e perguntava sobre o que queriam se consultar. Geralmente nenhum paciente falava e afirmava que era um assunto particular. Ficavam sem ação na antessala e observavam alguns mocinhos saírem do atendimento com olhar desesperançado e sem autoestima.
Suba na cadeira
O médico também jovem, mas muito competente, perguntava o que havia acontecido. Alguns diziam que pegaram no ônibus, outros nas privadas públicas, nenhum dizia que havia tido relações sexuais. O médico então colocava em ação o seu lado mais sarcástico. Mandava o menino tirar a roupa, o que deixava o paciente desconfortável e humilhado. Determinava tirar a cueca também e subir numa cadeira.
Ninguém entendia das razões de subir em uma cadeira alta de onde a visão da rua Álvares Cabral era grande angular. Aí o médico mandava que o jovem pulasse com toda força. Ao pular ele emendava um comentário que era uma flecha a atingir o garoto em suas pretensões masculinas no futuro. O comentário era lancinante: “Não caiu a sua parte sexual… então ainda resta uma esperança.” Todos saíam acabrunhados. Chocados pelas consequências de seu ato. O primeiro medicamento era um antibiótico, o Tetrex (que hoje não estaria surtindo tanto efeito pelas variantes das bactérias pós-guerra do Vietnam). Depois se restasse algum “calo”, segundo o médico, o paciente era cuidado com limpezas uretrais com nitrato de prata… e como doía.
Nunca, jamais
Quem passou por referida humilhação e medo das consequências de um ato que hoje a meninada tira de letra, garante que a vontade era ir para um convento e renunciar à vida mundana para todo o sempre.