Tribuna Ribeirão
Geral

Larga Brasa

Vendedor de ilusões
Um rico vendedor de veículos usados (bem velhinhos) da re­gião procurava maquiar os seus produtos de forma a que os mesmos aparentassem um visual formoso. Eram apelidados de “Belo Antônio”. Bonitos por fora, mas não funcionavam.
Não havia à época a legislação do Direito do Consumidor e tudo era levado, empurrando com a barriga, sem consequên­cias de reparação de danos, reformas obrigatórias, etc.
O velho e astuto idoso havia amealhado uma fortuna agindo des­sa forma. Muitos o conheciam na cidade, mas em outras cidades ele conseguia fazer seus negócios, incluindo ônibus etc. Ele tinha uma máxima: -“Neste negócio não se tem amigos, só se tem co­nhecidos”. E mandava brasa em suas maquiagens.

Kombi
Certa feita lhe apareceu uma kombi com as latarias corroídas pela ferrugem, o câmbio (das antigas) tinha mais folgas que pontos facultativos e ele estava querendo ganhar um dinheiro em cima daquele veículo caindo aos pedaços. Comprou car­tolinas na livraria, cola tudo e tinta da cor do veículo. Colou o papel grosso, pintou e tudo ficou parecendo como um ve­ículo recuperado no mais alto estilo. Para corrigir as folgas do câmbio ele colocou banana verde, bem socada, para dar a impressão de que o maquinário se ajustava com leve toque.

Comprador exigente
Um comprador passou pela sua loja e não conhecia a fama do ci­dadão e resolveu comprar o referido utilitário. Depois de negociar à exaustão pagou um bom dinheiro pelo que o vendedor astucio­so dizia ser o melhor negócio da região. Não havia financiamento de veículos e tudo era pago no ato e nem em “suaves prestações mensais”. Cidadão olhou a “lataria”, deu uma voltinha para sentir o motor e o câmbio bem como a suspensão e se convenceu de que era um bom negócio. Pegou o veículo e foi mostrar para a molecada em sua casa, fazendo a alegria da esposa. Chegou a um bairro afastado e colocou todo mundo, cachorro, papagaio e sogra, além de toda a meninada com olhos vidrados no “ca­rango”. Não era todo mundo que tinha carro naquela época. Saíram para dar um passeio e as nuvens cor de chumbo, que os escritores chamam de “nuvens plúmbeas”, se transforma­ram em um aguaceiro violento. As folhas de cartolina viraram uma pasta. Depois de algumas engatadas, o câmbio começou a emperrar e o motor que ele havia azeitado com um óleo mais grosso depois de rodar um pouco afinou e emperrou.

Quase um crime
O pacato cidadão, com a família toda, incluindo a sogra, foi para a loja do vendedor, que se escondia em um escritório mal ajambrado e escuro. O comprador entrou chutando portas e o vendedor não atendia. Todos entraram em seu esconde­rijo e a discussão foi em tom elevado. Em meio ao burburi­nho o cidadão pegou chave de rodas e quase acertou o ve­lho usuário. Ele dizia: -“Eu não sabia que iria chover e nem que você iria andar muito”. Mesmo não tendo a legislação do “Direito do Consumidor” a vítima conseguiu uma kombi melhor, de acordo com o que havia pago e voltou para casa com seus direitos preservados. O velho vendedor engoliu sapo como se fora azeitona. Deu indigestão.

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